Thursday, October 28, 2004

Quem tem medo de Leticia Wierzchowski?

leticia

Autora de romances e novelas, tornou-se nacionalmente conhecida por conta da superprodução baseada em A Casa das Sete Mulheres, veiculada pela emissora Globo. Está nas livrarias a continuação da saga, Um Farol no Pampa, sua oitava obra.

Leticia Wierzchowski não é só saga e tampouco surgiu somente em 2003. Quem lê uma obra assinada por Leticia não esquece. A primeira que li foi Prata do Tempo, editado em 1999. Naquela novela já se evidenciava o talento da escritora. O enredo, a história e a forma como foi urdida tocaram-me profundamente, causando muito desassossego. Precisei de coragem para abrir Cristal Polonês, que me chegou em meados de 2003. Esse me foi mais palatável, mas não menos emocionante. Dois livros escritos por Leticia Wierzchowski que já desbordavam sensibilidade e uma veia inata para achar o ponto nevrálgico do leitor. Dois livros que já apontavam a verve de romancista e o pendor para tratar da dimensão épica* de acontecimentos históricos, evidenciando simultaneamente o viés lógico e o subjetivo.

Desde o estrondoso sucesso d' A Casa das Sete Mulheres há uma ciumeira generalizada revoando sobre o trabalho da autora como gafanhotos na lavoura, aí incluído o lançamento de Um Farol no Pampa. Apontam-na como usurpadora do estilo de Érico Veríssimo. Considerando-se que Veríssimo Pai propôs-se a escrever uma obra com elementos históricos e dimensões épicas*, poderia-se dizer, mediante a aplicação do mesmo raciocínio, que ele usurpou Homero. E John Milton. Curioso, também, que ninguém atribuiu a pecha de usurpador a Luis Antonio de Assis Brasil, quando da edição da trilogia Um Castelo no Pampa. Que se valia de elementos históricos. Que usava a estrutura épica*. Que narrava fatos da história entremeados com a saga de uma família. Que foi publicada em forma de trilogia.

Críticos se aborrecem, ainda, com o enfoque feminino da história. Resmungam que os homens são bobalhões e frágeis e as mulheres, seguras e sábias. É tola a admoestação. Em vista das circunstâncias em que são narrados os acontecimentos descritos, evidencia-se que somente os homens tinham poder de execução. Evidentemente que mulheres fortes e sensatas participaram da história sul-riograndense, brasileira, latino-americana e mundial, mesmo que só nos bastidores. Impressiona que sob a pena de Veríssimo Pai as mulheres voluntariosas e cheias de coragem sejam heroínas que combatem lado a lado com seus parceiros, enquanto que a mesma galhardia é fator de redução de masculinidade apenas porque brotou das teclas do computador da Sra. Wierzchowski.

Triste mundo.
O sucesso dos nossos pares é uma punção ferrenha no nervo exposto da vaidade.

As obras da Sra. Wierzchowski estão à venda também na Livraria Cultura.
Mais sobre Leticia Wierzchowski aqui - antes que me acusem de plágio, sim!, eu li o artigo e sim!, foi por tê-lo lido que escrevi esse post.

* as referências são quanto à forma em prosa do estilo épico.

Huck Hefner

huck2

A revista Playboy foi fundada em 1953 por Hugh Hefner, egresso da Esquire Magazine. Caracterizava-se a Esquire pelos textos sempre ótimos, de autores consagrados e também de até então desconhecidos, conseguindo o feito de ser revista simultaneamente intelectualizada e vanguardista. Hefner não foi mais visionário do que Calígola ao concluir que o povo queria mesmo era mocotó, tratando de colocar mais moças, e desnudas, para ilustrar o rebento editorial. Sucesso total.

Como no paradoxo entre o ovo e a galinha, não se sabe ao certo o que veio antes: se Hefner gerou a Playboy ou se foi a Playboy que finalizou o lay-out de Hefner. O Playboy Style foi fundamento do slogan mais duradouro da magazine, algo como *a revista do homem que aproveita as boas coisas da vida* - todas elas muito caras, evidentemente. Sucesso mais do que total: além de mocotó, o povo tinha também circo para sonhar e se frustar e comprar. Comprar muito. Hefner foi o melhor garoto-propaganda ever, especialmente porque propagandeava a si mesmo. Todos sabem que o portão de sua mansão, regiamente servida pelas Playboy Bunnies, tem as iniciais *HH* gravadas a ouro. Todos sabem qual o (algo ridículo) traje consagrado das coelhinhas, recentemente envergado por Ana Paula Michels em desfile da V.Rom. Todos sabem que as coelhinhas eram moças lindas e muito bem dispostas a enfrentarem a árdua escalada rumo ao estrelato. É fait accompli.

Hefner está velho - sorridente, mas velho - e aparentemente sem ter para quem legar seu império dos sentidos.

Discordo. Basta olhar e ver: Luciano Huck. É o faro, o tino, o aplomb, a capacidade de apurar de imediato as necessidades mais atávicas, mais instintivas e mais primitivas do homem. Huck engendrou manhas e malemolências sob medida para a libido heterossexual masculina. Chamou as criações à vida, emprestando-lhes corpo, alma e animus. E todas elas ilustraram as páginas da Playboy.

O boom ocorreu em 1999. A primeira foi a personagem Tiazinha, do *Programa H*, na edição de março - primeira vez na História em que se comprou revista de nudez para ver o rosto da modelo. A edição de julho trouxe as assistentes de palco do *H*, Taís e Fabiana. Em dezembro, posou a Feiticeira, também personagem do extinto *H*, envergando o veuzinho que encobria nariz e boca. No ano seguinte, reprise: Tiazinha, agora asssinando Suzana Alves, exibiu upgrade corporal na edição de março de 2000; Feiticeira mostrou a face na edição de agosto de 2000, repetindo o feito da colega de programa televisivo. Em 2001, safra menos generosa: somente uma edição das doze, a de março, estampou na capa (e miolo) uma modelo de Huck, Dany Bananinha, assistente de palco do novo programa, veiculado na emissora Globo. O ano de 2002 contou apenas com a participação da Feiticeira, agora assinando Joana Prado, na edição de abril. Após um período de recesso, em 2004 emplacaram nada menos do que três assistentes, ex ou atuais, do palco do programa: Dany Bananinha com lay-out repaginado, em março (mês de safra da moça); Pietra - que teve participação especialíssima no desfile de verão da V.Rom, cujo mote era exatamente *O Mundo de Playboy* -, em julho e Sandrinha, em setembro. O ano ainda não acabou e não surpreenderia se Ana de Biase, a personagem Salva-Vidas do programa veiculado nas matinês de sábado, ilustrasse a revista de dezembro, como presente de Natal aos leitores.

Na condição de sucessor (produto melhorado, como se espera) Huck se mostra bem mais discreto, quase sóbrio. Muito se fala mas nada se sabe sobre o relacionamento entre ele e as modelos. Tudo indica que é o primeiro magnata do entretenimento que brinca com fogo sem se queimar. Seus relacionamentos se dão com mulheres cuja atividade profissional junto à mídia em muito se assemelha à dele, sem cair na vala comum dos escândalos e baixarias que alimentam a imprensa marrom. Além disso, valoriza o biotipo nacional ao propagandear moças mais encorpadas, bronzeadas e saudáveis do que o tradicional "bacalhau-seco-norteamericano": alvura polar, ossos que saltam à vista, total ausência de curvas do peito para baixo e seios mamelonares.

É um tremendo potencial, em plena floração.
Aposto minhas fichas em Huck Hefner.

Artigo bacana e despretensioso sobre revistas masculinas, aqui.

Monday, October 25, 2004

Chav

Desculpem-me os sensíveis pela definição rasa e barata: parecem-me com punks endinheirados - portanto, sem causa - cujos badulaques cintilam mais e alavancam vendas.

Veja aqui quem são os ícones da nova onda.

Maiores informações você também encontra no já lincado, referido e bem-bolado ChavScum.

1001 razões para querer ir à Loca

ana_regis

Conhecer e conversar. E tirar fótas de lembrança.

Essa fotinha veio daqui. Recomêindo!

Friday, October 22, 2004

Plantão Mishappenings

Especial para El Pupo.

kamatary
Esther Kamatari foi uma das primeiras mulheres de pele negra a desfilar para grandes griffes francesas, lá nos idos de 1970 - causando frisson. Isso não a deslumbrou. Jamais esqueceu que era nativa do Burundi. Na década de 80, procurou articular a paz entre Hutus e Tutsis (não funcionou). Mesmo cercada de luxo e glamour, o que realmente brilha para Kamatari é a possibilidade de colocar as coisas nos seus devidos lugares: acaba de anunciar sua candidatura à presidência do Burundi, com a promessa de retomar os valores originais da nação - refere-se à paz e a um mínimo de democracia, o que viu evadir-se após o assassinato de seu pai, líder político, em 1964. O pleito corre em abril de 2005.

Descaradamente chupado daqui.

Let's DANCE!

dancing - Antonio Marras

Esta noite eu quero festa. Quero rua. Eu quero é me apaixonar.

Depois do milagre da multiplicação de soluções pour moi protagonizado, mereço muito tudo isso.

momento recadinho: CK, bacci, amore mio!


Thursday, October 21, 2004

Tonterías allucinadas de chica


Foi inevitável. Nem mesmo uma camisa-de-força cortada em pura seda e assinada pelo designer himself poderia me impedir de cometer essa aquisição.

It actually smells like Belly. Yep! ;D

Mais informações sobre essa delícia aqui.

Wednesday, October 20, 2004

Ring-ring

(momento "thanks for sharing")

Muitas vezes o telefone toca e é só problema.

Surpresas (boas) acontecem!

(e eu mereço, pois nunca mais recitei o meu friendly mantra*: "obrigada por estar ligando, sua ligação está sendo muito importante para nós!")

* quem já experimentou Belly mal-humorada depois de um dia difícil sabe que fico gerundiando e incomodando o interlocutor. tsc. sou muito incomodativa.

Missão: Impossível

Cristofoli

Este sapato se autodestruirá em cinco segundos. Cinco, quatro, três...

Falando sério. AMO o design dos calçados deles. Mas, se na primeiríssima vez que você calça a preciosidade ela: 1) descasca o revestimento do salto; 2) perde as DUAS solinhas do salto; 3) após VOCÊ MESMA colar o revestimento do salto e as solinhas dos saltos, em UMA ÚNICA CAMINHADA de dez quadras as solinhas se ESFARELAM, então, Leitor Amigo, nem o Tom Cruise conseguiria.

Monday, October 18, 2004

*Dé reáu*

dezreais1.JPG

Era algo de enviesado, de oblíquo, aquele olhar. Os cabelos castanhos, muito lustrosos, cascateavam emoldurando o rosto. Acima da orelha começava o ondeado daquele mar de seda marrom-dourada, pouco abaixo da altura dos olhos grandes, de cílios enormes e negros, que espiavam de esguelha, cheios de cintilâncias e promessas.

Não sabia resistir àquele olhar. Mesmo descobrindo que ela era capaz das palavras mais ríspidas, dardejadas daqueles lábios cheios e suaves como flechas envenenadas. As sobrancelhas arrepiavam-se e do escuro dos olhos saltavam faíscas de pura fúria. Apertava-me o peito vê-la assim, tão diferente da menina carinhosa por quem me apaixonara. Procurava trazer um pouco de leveza para aqueles momentos, dizendo *desenferrusca essa cara! mas por que tanto ódio nesse coraçãozinho?*, esforçando-me em sorrir para ela o sorriso que ela mais gostava. Funcionou, por pouco tempo. E em pouco tempo chegou o dia em que o nó na garganta e o peso no peito se fizeram mais fortes, mais prementes, mais urgentes do que a urgência louca que aquele olhar oblíquo me despertava.

Nossos caminhos há muito haviam se afastado, cabia-nos apenas reconhecer o inevitável e proceder como pessoas adultas e sensatas.

Embora adulta, ela não foi nada sensata. A face transfigurava-se numa máscara de dor e desespero. Jorravam-lhe as lágrimas. Refulgiam centelhas de descontrole, de loucura até, naqueles olhos que outrora, mirando-me enviesado, transbordavam de amor. Assim permaneceu durante algum tempo.

Porém, quando nos reencontramos na Vara de Família, ela estava bela. Feições serenas. Pele bronzeada. E olhava oblíquo. Durante todo aquele tempo, somente quem tinha me olhado oblíquo era a mulher do canto direito da nota de dez reais. Dia após dia. Na carteira. No caixa automático. No empréstimo do colega. No troco do supermercado. Estava ela, transfigurada, convertida em papel, observando-me com o amor e o desejo que marcara nosso convívio. Perseguia-me. Poderia estar na praia, no cinema, no bar, na festa, na cama, com mulheres louras, ruivas, morenas, castanhas e ela acabaria por emergir de qualquer parte. Fitando-me obliquamente.

A audiência se realizou e dessa vez ela foi sensata. Até alegre. Olhava-me todo o tempo daquele jeito, de esguelha. E não era intencional, era somente o jeito dela de observar o mundo - assim, de cantinho. A saudade apertava e doía e pensava que não ia nunca me livrar daquele aperto, com ou sem ela.

Quando todos os ritos se encerraram ela sorriu, pronta para partir. Dessa vez, quem não estava pronto era eu. Busquei algum motivo para retê-la. Conversamos por um tempo. Ela foi doce, gentil e distante, como convinha. A ferida ardia cada vez mais forte e intensa. Fui embora.

Ainda ela me fita. Da nota de dez reais. Faz parte do meu cotidiano, como sempre quis ela. Como sempre quis eu.

Nesse aspecto, falhamos ambos em nos abandonarmos mutuamente.

Sunday, October 17, 2004

Simplesmente Ana

Ana Carolina da Costa e Fonseca. Guarde esse nome.
A moça estréia lindamente em versão impressa, prontinha para degustação, às 20h do dia 26.10.2004, terça-feira, no Bar Opinião, em Porto Alegre, RS. Devidamente (bem-)acompanhada de outros cem colegas de Oficina Literária do (magistral) Charles Kiefer.

A nossa querida Ana sempre teve um gosto pelo *mais além*. Não satisfeita com o bacharelado em Direito, é Mestre em Filosofia, cursando o doutorado e provavelmente encaminhando-se para a livre-docência. Esteve pela Europa inteira, acabando por demorar-se (muito) mais na França e na Alemanha, onde cursou as respectivas línguas-mães. A dama em questão lê (e entende e disserta sobre) Nietzsche, bem como outros gênios da raça, de Platão a Wittgenstein. Durante um bom tempo foi professora universitária, optando por *dar um tempo* porque os compromissos não a deixavam estudar como queria. E, como se não bastasse, tem o corpo de Kate Moss - mas com mais altura - e longos cabelos negros ondulados, um Mar Negro onde é fácil, muito fácil submergir, refutando, assim, o binômio estereotipal odioso de inteligente horrorosa/bonita burrinha. E ela continua dominando os meandros jurídicos e sendo uma mulher querida, engraçada e maravilhosamente simples.

Prestigie o (ótimo) conto da Ana. Entre em contato comigo no bellyboo@hotmail.com e ele chegará até você.
(ou, se eu tenho seu endereço de e-mail, basta deixar um *eu quero!* nos comments)



Saturday, October 16, 2004

A última romântica

Romantic moschino

Semana de Moda de Milão. Moschino definitivamente acertou a mão. Essa é para me auto-homenagear hoje (já que estou carente e ninguém me homenageia), no meu modelito working girlie girl: camisa branca básica, calça cigarrette e blazer ajustado pretos e lindjos sapatinhos peep toe pretos, minissalto.

E se alguém me oferecer flores, isso não será Impulse, pessoal. ;D

Foto do Terra.

Sinta-se à vontade, Leitor Amigo, para indicar algum lugar na capital da província sulista onde possa encontrar esses Moschinos. A carteira chora, mas a mocinha agradece.

"Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico..."

Penélope voltou!!!

L'Oréal: eu *definitivamente* NÃO mereço

(notícia velha, descaradamente chupada daqui.)

NINGUÉM MERECE.


Friday, October 15, 2004

Dialética Alimentária

(entreouvido ontem)

"As batatas são poéticas."

"Os tortéis são contraditórios."

Nasce um novo Nietzsche.

Não estou gostando muito. Mas e daí, né?

Thursday, October 14, 2004

Penélope protesta

Pois não é que ontem chegou lá em casa uma intrusa? Metida a besta e cheia de empáfia. Eu bem faceira, dando as boas vindas e oferecendo a barriga para carinhos - luxo para poucos, estão pensando o quê? - e a ingrata dessa mulher me traz uma caixa com a baranga. Toda arreganhada, fazendo cara feia para tudo. Isso que tinha feito xixi na caixa, a porca. Mas não estava nem aí. Fui lá conferir o que diabos que se passava no *meu* cantinho e a bisca só rosnando e mostrando os dentes. Eu, hein. Educação vem de berço, minha filha.

Ah. Depois a fina se entocou atrás do móvel da sala e ficou lá, acuando a gente, no melhor estilo Marlene Dietrich. Não chega aos pés do Anjo Azul, querida. Vai sonhando. E lá ia a mulher fazer carinhos e tentar pegar a casca-grossa no colo. Pfffff. Tomou um monte de unhadas e mordidas, ficou com a mão em carne viva, prontinha para consumo. Imagiiina, se eu faço isso, a hipócrita sacripanta me joga longe, mas como é a intrusa metidinha, ah não, é só no amorrr. Ninguém merece, viu.

Para arrematar, a antipática imunda fez suas necessidades sólidas atrás do móvel e deitou em cima (!). Ficou com toda aquela caca grudada no pêlo. Lá se foi a bobalhona da mulher limpar a mocréia. Tomou outra surra, sangravam-lhe os polegares. Quase fiquei com pena. Eu disse *quase*, porque ela merece, viu. Merece. É muita ingratidão.

Já estou melhor. Não dá para se deixar abater por essas coisas vis.
Acordei a mulher hoje cedo olhando bem séria para a cara dela: "got lotion, benzinho?" E deixei por isso mesmo.
Sou uma lady. O povo sabe.

Hmpf.

Wednesday, October 13, 2004

O Enigma da Pirâmide

É um filme bem antiguinho. Assisti quando pré-pré-aborrescente. Coisa de uns vinte anos atrás. No original, o título é Young Sherlock Holmes e se propõe a explicar o comecinho de tudo - Holmes adolescente faz amizade com Watson, inaugura sua carreira detetivesca e encontra pela primeira vez seu arquiinimigo para toda a vida, Moriart. O plot inclui misteriosos assassinatos e rituais pseudoegípcios onde cera fervente é derramada sobre um corpo vivo(!) envolto em bandagens, à la múmia style. Sacrifício humano. Coisinha básica.

Pois bem.

Afora a parte das bandagens, vivenciei a insólita cena do sacrifício humano. Hoje. Por três extenuantes e ininterruptas horas.

Não, Leitor Amigo. Não gritei como no filme. Sou uma dama, mesmo fazendo reportagem gonzo.

Aceito auxílio para remover a cera. Colabore. Seja solidário. Doações de thinner, querosene e Isa-Raz para a Caixa Postal 2120, ECT.

Aguarde leilão beneficente de lotes de pele humana feminina caucasiana. Maiores informações a serem publicadas nesse blog.

(confira o filmitcho. vale a vista, yo agarantizo!)

Monday, October 11, 2004

I've hearded it through the grapevine

(....)
Amigo - ... ela passou todo o vôo me olhando. E não falei com ela.
Belly - ...
Amigo - ... e ela foi embora.
Belly - Deve haver um jeito de conseguir falar com essa mulher.

(e havia. claro.)

Telefone e endereço na mão.
Amigo (ansioso e animado) - Agora, o que se faz? Ligo para ela?
Belly - Não! Claro que não.
Amigo - Mas então faço o quê? (digressão do Amigo sobre o que fazer)
Belly (trabalhando e digitando e lendo e pensando no assunto) - Mande flores.
Amigo - Flores?
Belly - Flores.
Amigo - Acompanhadas de um cartão dizendo (váários exemplos de abordagens bem diretas)?
Belly - Não. Flores com um cartão misterioso. Melhor: primeiro, flores sem cartão. Depois, flores com mensagem sutil e anônima. E assim vai, num crescendo. Voiláá...
Amigo (contentão!) - !!!!!!
Belly (sorrindo) - Que desperdício que eu não nasci homem, não é?
Amigo (contentãozão!) - É. Se você fosse homem, ia *pííííí!* a *pííííí!* em tudo quanto era mulher.

Friday, October 08, 2004

De lagarta a borboleta

Era pequena, porém perspicaz. Brilhavam os olhos amendoados ao ouvir as explicações do pai, de por que a água fervia, borbulhava e fumaçava pelo bico da chaleira. Gostava de observar o gelo trincando no chá fervente, aquele momento onde todos eram ao mesmo tempo agora. Essencialmente iguais e intrinsecamente diferentes.

Percebera desde sempre o viés de transmutação no vão das coisas. Por isso, ao contemplá-las, sabia-as paradoxalmente efêmeras e permanentes. Deitava-se no colo da avó, acariciando delicadamente a pele suave que pendia dos braços magros e sentido toda História que dali emanava. Embora contrafeita, a avó nada dizia. Não gostava de ser lembrada da idade transcorrida, especialmente por aquela coisa pequena, roliça e firme. Mas sentia a doçura do veludo castanho dos olhos da pequena e do seu sorriso e esquecia o aborrecimento.

Desde sempre a Leitura acompanhara a menina e, aos poucos, aprendia a ver. Já não se zangava ou entristecia com certas coisas. Saltavam-lhe à vista os vincos impressos na face da mãe, que sabia decorrerem de longos e tristes períodos de espera e angústia na cabeceira de seus pais doentes. Percebera que nos olhos de mel dela habitava uma menina magra e miúda, muito sozinha, precisando de carinho e companhia. Notara que os rictos concêntricos do rosto do pai haviam aumentado depois da perda daquela outra filha. Sentira que dos olhos daquele homem passado em anos um menino angustiado e cheio de medos buscava, mudo, um sinal de aprovação. Sobressaía-se silenciosamente na avó uma mocinha cheia de paixão, algo cansada de esperar por aquele que, prometeram-lhe!, seria digno de seu amor. Lia cada vez com mais clareza a História das pessoas e, sorrindo, estendia as mãos para aquelas crianças, há tanto tempo sozinhas.

Observava a si e aos coleguinhas, ciente de que eram todos papiros virgens, onde a vida e o tempo se encarregariam de escrever a História. Curiosa, contemplava aquela gente toda, pensando o que aquelas carnes, então tenras, haveriam de contar algum dia.

Chegou o tempo em que lhe veio um pequeno papiro virgem, também ele acompanhado da Leitura, desde sempre. Ela relutava em admitir o inevitável - que a vida e o tempo produzissem suas chagas e fincassem seus cravos naquele corpinho puro. Por ser impossível de impedir, foi aos poucos soltando os braços, soltando as rédeas e deixando que o garotinho de olhos oblíquos e esverdeados tomasse pé e encontrasse seu rumo. Sabia que os lábios carnudos cor de romã dele iriam muitas vezes contrair-se num ricto de dor e decepção. Desejou fortemente que se abrissem muitas e muitas vezes mais em sorrisos luminosos, pronunciando palavras doces. E que as lágrimas, as lágrimas não fossem somente de tristeza.
Decidiu, ainda temerosa, ensinar-lhe o que tinha aprendido em anos de Leitura. Ele aprendia fácil. Estava tudo lá.

Passaram-se as horas, os anos. Ele vai. Mas sempre volta. E, nesses retornos, mergulham ambos nos olhos um do outro: ele se perde no veludo castanho dos olhos dela; ela corre livre na pradaria esverdeada dos olhos dele.

Não precisam mais de palavras.


Para Antonio.
Para Lya Luft.

Hardcore Pinocchio

Imagine que você foi a uma banca de jornal e comprou um filme do Pinóquio em VHS.
Imagine que essa fita foi colocada à venda pela Editora Abril - uma megaholding do entretenimento e informação, e por isso você confia que a fita contém Pinóquio, apenas Pinóquio e nada mais do que Pinóquio.
Agora, imagine que você coloca crianças, que estão sob sua responsabilidade, para ver o filme.
E daí, quando o filme começa, o que cresce não é exatamente o nariz.

Yes. Fight Club.

(this post has been updated.)

Thursday, October 07, 2004

Special thanks....

...a você, Leitor Amigo!

Que vem aqui no Mishappenings e deixa (ou não) sua opinião. Que debate os posts. Que gosta, não gosta, critica, aplaude, fecha a cara, torce o nariz.
Que não comenta nada, mas lê.
Não tenha dúvida. É feito para você. E a minha alegria é ter esse retorno.
Obrigada!

Recomêindo!

Vá ao Banheiro Feminino. Clique nos *Tipinhos Típicos*.

Voilá!

Tuesday, October 05, 2004

Flávia Exímia

Ele estava no banho. Ensaboava aquele corpo que estivera horas e horas em contato com o seu, em práticas nada ortodoxas e perfeito êxtase. Sorria, feliz. Os olhos passeavam pelo quarto. A cômoda. A janela. O cabide de roupas. A poltrona de chenile dourado. A mesa de cabeceira. O celular.
Dele. O celular dele.
Toda a vida dele, ao alcance dos dedos. Seus segredos mais secretos. Sua agendinha de amantes. Os nomes! Os números! Não devia, mas pegou. Não resistiu.
Descarga de adrenalina, coração acelerado de quem sabe estar fazendo o que não deve. Agenda. Mostrar. Apertando setinhas, nervosa, quantos nomes! quantas meninas! Adriana, Ana Carla, Ana Lucia, Ana Paula, Anelise, Anelise, Anelise (puxa, três Anelises!) Barbara, Beatriz, Bianca, Bibiana, Eliana, Fabiana, Fernanda, Fernanda, Fernandinha (agh!), Flavia, Flavia... Flavia Eximia.
Exímia?
Meu Deus. Tinha uma mulher exímia na agenda de telefones dele. Mas exímia em quê? Em quê? Ora, para constar em agenda de celular de homem, ainda mais homem gostoso, cheiroso e incansável como aquele, só podia ser exímia numa coisa: nisso mesmo.
Mas em que será que a desgraçada era exímia? Qual das artes do amor teria ela aperfeiçoado até a eximitude? Seria exímia em pé ou deitada? Exímia na cama, na mesa ou no banho? Exímia com as mãos? A boca? A barriga? Os pés? Puxa vida, muito pior do que ter duzentos e vinte e dois telefones de mulher na agenda do celular era ter um deles acompanhado desse adjetivo, "exímia". Não precisava mais nada! Era a favorita do harém! A rainha de sabá daquele homem! Pois qual o macho heterossexual nesse mundo não cairia de amores por uma mulher exímia? Qualquer um! Qualquer um, mesmo!
Cessou o barulho de água caindo no box do banheiro. Hm. Deve estar saindo do banho. Melhor botar esse treco de volta no lugar. Assim. No silencioso. Teclado protegido. Isso.
Largou o celular dois segundos antes de ele entrar no quarto.
- Oi!
- ... Oi.
- Agora tô novo em folha! Até posso começar tudo de novo.
- ... Ah.
- Vem cá...
- Ah. Não. Vou tomar banho.
- Não vai não. Vai daqui a pouco. Vem cá... vem...
- Tá. Vou. Mas com uma condição
- Qual?
- Preciso contar uma coisa.
- ... Conta
- É uma coisa muito importante.
- Xii....
- Amor.
- ... Fala.
- Eu mexi no seu celular.
- (rindo) E por que você fez isso, minha enxeridinha?
- (braba) Não tem a menor graça!
- (rindo mais ainda) Mas por quê?
- Quem é Flávia Exímia?
- Hã?
- Flávia! Flávia Exímia! Tá aqui, ó! Nesse celular! O nome dela, Flávia, e depois, "Exímia"! Quem é essa "exímia"? Exímia em quê, posso saber?

Lágrimas escorriam aos borbotões.
Primeiro ele sorriu. Depois gargalhou. Abraçou-a.
Flávia era a gerente de RH. Exímia era a empresa de headhunters onde ele tinha deixado currículo. Ele não sabia quais seriam as habilidades de Flávia, e não estava curioso. Queria é saber quanto tempo mais ela poderia ficar na cidade e se eles se veriam à noite. Não acreditou. Mas tudo bem. Não é todo dia que um homem que tem uma Flávia Exímia na sua vida se mostra interessado em saber quando vai vê-la de novo.
Saiu ressabiada, porém faceira. Ha. Flávia Exímia. Vem cá que eu te ensino. Vem.

Boys don't cry. Monsters do.

Monster, um filme com Charlize Theron embruxada e Christina Ricci numa variação do lay-out da Família Addams. O plot de Monster já é deveras conhecido: os crimes cometidos por Aileen Wuornos, considerada a primeira serial killer da história policial norte-americana recente.

Serial killer, por definição, é um ser em estado psicótico - não sente culpa e não é atingido por recriminações externas quanto às conseqüências de suas ações - que cede à pulsão do prazer de matar alguém. Declarar com base no que é mostrado no filme que Aileen Wuornos matava pessoas por prazer, sem culpa, é um tanto quanto forçado. Mas enfim.

Ambientando a ação no começo dos anos 80, temos a magnífica cena no rinque de patinação, ao som de Don't Stop Believin', do Journey, juntamente com os carros e os modelitos calças jeans unissex e camisetas com estampas de praia. Época bastante próxima ao do episódio envolvendo Teena Brandon, que assumiu persona masculina invertendo a ordem do nome e foi vítima de intensa intolerância social, para não chamar de sacanagem mesmo, quando descoberta.

São muitas as semelhanças entre Monster e Boys don't cry. A atriz principal oscarizada, após sofrer intensa modificação na sua persona, para adequá-la ao exigido pelo papel (embora as alterações impostas a Hilary Swank em Boys don't cry tenham sido muito mais sutis e, por isso mesmo, mais devastadoras); o intenso repúdio ao homossexualismo feminino e a associação do amor entre mulheres à tragédia - ao passo que o amor entre homens é vinculado à alegria (*gays*, *rapaz alegre*); a mensagem bastante explícita de que entre mulheres as coisas sempre acabam mal e que uma delas, normalmente tida como a *femme* da história, vai pular fora e deixar a *butch* sozinha e abandonada ao seu calvário, que culminará na morte. E, que estranho! nos filmes em que há casais de homens, a tônica hollywoodiana é o amor à toda prova, o companheirismo acima de tudo (vide Philadelphia), no matter what.

Existe todo um folclore de que o amor entre mulheres é dramático, cheio de brigas, muito puxão de cabelo, gritos e agressões de toda sorte. Mesmo que seja assim, não consigo acreditar que as histórias entre mulheres sejam TODAS fadadas ao mais retumbante e redundante fracasso. Ou, por outra, não consigo é aceitar que a falta de pênis seja algo assim, tão desgraçante - à *butch* é imposta a pena capital; à *femme* é ofertada a remissão dos pecados e a ressurreição da carne através da cópula "correta" com um indivíduo dotado de pênis (não importa quão insignificante sejam, o incauto e seu piupiu).

Oh puxa. Como é triste não ter pênis.

Só para constar: nada contra pênis. Pelo contrário. Eu não gosto é de hipocrisia.

Update de *Fat Girl Slim*

O Blogspot resolveu que não vou editar nenhum post. *suspiro*

Colaboração do querido Noronha.

Max Mara
Tem também modelos de Marina Rinaldi. Os descontos chegam a 50%.

Rua José Jannarelli, 573 - Jardim Guedala - Morumbi

(11) 3721.9764


Friday, October 01, 2004

Fat Girl Slim



Fotinhas dos desfiles da Semana de Moda na Itália já estão disponíveis no Terra. Foi de lá que veio esse primaveril casaquinho da Max Mara. Esmerilhado para pessoas robustas, curvilíneas, opalescentes - asi, como yo - que buscam a touch of class com o que cobrir toda sua *a-ham* voluptuosidade, criando uma silhueta um pouco mais slim, ou um pouco menos fatty, as you wish.

Yep. Fat Girl Slim is the future! ;D

(gostou, Pupo?)

--> Momento Utilidade Pública - a Max Mara tem um outlet em São Paulo, onde você, Leitor Amigo, poderá encontrar verdadeiras maravilhas a preços muito mais camaradas. Aguarde update com o adrésse.