Thursday, July 28, 2005

Nhé!

Pérolas perfumadas

Diga aí, Leitora Amiga: você compraria um perfume que tem uma salada de frutas misturada com "almíscar rosa" e "almíscar sensual", seja isso o que for?

Tendo passado desse pedaço, continuaria com vontade de comprá-lo após saber que a salada de frutas almiscarada "explode em uma sexy mistura"?

Persistindo no intento aquisitivo, como se sentiria ao saber que, a qualquer momento, seu "coração feminino criará um momento hipnótico de intimidade e então as preciosas notas entregarão um leve efeito sensual de prazer"?

Mas o melhor está no final: "para mulheres que seguem seus impulsos e aproveitam a indulgência". Indulgência? De quem, Cara-Pálida?

Eu hem. Mais seguro é optar pela polpa volumosa de pêssego, sempre que desejar meu momento de prazer.

(e o pior é que o primeiro perfume é bem bonzinho)

Wednesday, July 27, 2005

New York City Boys

Civil War Soldiers

O Postsecret desta semana está imperdível.

Tuesday, July 26, 2005

Cem anos de perdão

It cuts your life like a broken knife

Depois de uns cinco minutos ligados o chuveiro elétrico finalmente esquentava, litros e litros de água ralo abaixo. A música vinha do CD player que usava no banheiro - na verdade, que usava na casa toda, depois que ele começara a vender todas as coisas que tinha trazido para dentro de casa, incluindo o super-sonzão vintage que ela adorava, dando-lhe em substituição aquele prêmio de consolação murrinha como quem dá o Santo Graal ao peregrino. Mas ela gostava do óbolo do fariseu, especialmente porque certa feita tropeçara e caíra em cima dele, na pressa de encontrar-se com o amante grande, branco e gordo, que fazia seu sangue ferver em borbulhas nas veias como lava negra. Quebrando a tampa, que nunca voltou para o lugar.

Pele arrepiada envolta em música encontrou uma calidez inesperada nos desencontrados pingos do chuveiro. A água deliciosa e surpreendentemente quente, acolhendo os músculos cansados, algo doridos de carregar fardos pesados. Enrolava-se sob a água, sentindo a carícia e retorcendo-se ao som da música qual stripper, uma stripper já sem nenhuma peça de roupa no corpo e assim pronta para o show. Sempre acreditara que era a trilha sonora perfeita para sexo que se iniciasse suave e despretensioso, revelando-se intenso e exigindo a entrega dos participantes, e dançando ficou no chuveiro, sorrindo e ondulando as curvas bastante pronunciadas sob a água que a vestia.

Era uma canção que evocava sedução, lançada numa época em que tudo parecera possível, e agora, vinte anos passados, perguntava-se: mas e não é? Enquanto dedicava-se ao ritual de amor a tudo o que fora e ao pouco que ainda era, descobria que desejava se despir da água, do suor frio aderindo ao corpo, das lembranças, de tantas esperanças frustradas, do abandono, da dor, do cansaço, do Desejo. Queria despir-se da própria pele, depois da carne, dos ossos, da essência, e perder-se, perder-se indefinida e definitivamente, como a água que o chuveiro tributava para lhe dar algum calor.

Porém, como viver sem o príncipe-monstro de olhos dourados que lhe devorava as entranhas, criava borboletas no estômago e fazia a respiração curta e entrecortada? Haveria um substituto químico para as magias do Desejo? E se houvesse, valeria a troca? Depois de tantas descobertas na última década de vida, de saber como perder-se de si mesma, de encarar todas as facetas do espelho e sair triunfante, não poderia simplesmente abdicar dessa autofagia. Há coisas que, uma vez despertas, não voltam a adormecer.

Passou a procurar seus semelhantes. Encontrava-os pelo cheiro, pelo tom de voz e, especialmente, pelo brilho dourado dos olhos. Sim, eram eles, as mil e uma encarnações do Desejo, rindo de sua fragilidade, antegozando o controle que sabiam que exerceriam. Seu trunfo era saber que não havia como realizar um ataque efetivo sem abrir a guarda, e era esse momento que esperava, cautelosamente. Somente depois da derrota quase mútua e da trégua sôfrega que se auto-impunham é que dispensava ao dono dos olhos dourados o patchwork que restara de si mesma, com uma casualidade e frieza dignas de profissional. Era o ápice, e ela o fazia parecer com mero exaurimento.

Doía. A dor era sua prerrogativa.
E mal se iniciavam os cem anos de perdão.


Thursday, July 21, 2005

DISCLAIMER: Burn baby. Burn.

O Firewall do local de trabalho não permite o acesso ao comentador-friendly - aquele que diz "O Caos!"

Por isso a demora dos comentários aos comentários dos Leitores Amigos.

Caso deseje ter seu comentário comentado just-in-time, basta utilizar o jurássico sistema de comentários que o Blogspot disponibiliza - é esse bem à direita da tela do ponto de vista de quem está de frente para o monitor.

Em tempo: qualquer coisa que tenha a palavra "blogger" é imediatamente incinerada pelo Firewall, inclusive o Qualquer Coisa. Lamentável.

Leste-Oeste

Tão tristes nossas conversas, por tudo o que não é dito. Você está lá, também estou, todos estamos, como poderíamos não estar? Depois dos cumprimentos habituais, polidos e educados, o vazio de quem tem medo da fala por conta de tudo o que há tanto tempo cala.

Sim, sou agora a sombra de mim mesma, à procura da dona pelos cantos iluminados desse lugar sombrio e suspeitando (e descobrindo, e um pouco adivinhando) que terei de reinventá-la. Digo-lhe daqueles livros, dos discos, do meu auto-garimpo para reconstruir-me a partir de alguma referência, como uma releitura, uma tendência revivida em desfiles de moda por criadores exaustos de criar, ao que você responde com a reforma do seu apartamento de um zilhão de metros quadrados e o muxoxo de desprezo ao meu elogio a sua beleza iluminada de quem espera a vida no ventre.

Sou o Quarto Rei Mago, mas meu presente não foi considerado digno e repousa no lixo reciclável. E escondo as lágrimas e escondo a dor porque a Arte da Guerra ensina que o primeiro passo para a rendição ao inimigo é render-se a si mesmo. Nos olhos empoçados refletem-se as paisagens sombrias da cidade cinzenta de chuva. A chuva chove, eu não.

Meanwhile, Ziggy played guitar jamming good with Weird and Gilly and the Spiders From Mars
He played it left hand. But made it too far.

Wednesday, July 20, 2005

Take a Toke. Tell me a Tale.

Há algumas semanas, comprei Pesadelos e Paisagens Noturnas. Sim, é de Stephen King. Dois, disse *dois* volumes de contos. Novelas, quase. Com o gosto especial de serem livros usados. Livros amaciados pelas mãos de outros que já os amaram, que já os tiveram em seus braços, em sua cama, fazendo companhia em momentos de alegria ou horas difíceis.
É ele que todos os dias vem e vai comigo trem, sua magia tornando aquele período de tempo quase que sofrivelmente curto.

Agora encontrei Sombras da Noite. Também contos, também Stephen King. Numa encadernação diferente da que conheci, com as mesmas palavras, em outra editoração. O mesmo conteúdo, repaginado. A mesma emoção, acrescida da doçura do reencontro. Sim, encomendei e estou com pressa de pagar e recebê-lo em minhas mãos. A capa que foi restaurada, capa essa que nem conhecia, foi-me apresentada em pixels no site onde comprei. Quero a capa também, claro, mas só para ter o gosto de tirá-la, desnudar o livro e reencontrar a calidez, a aventura, dor pungente e paixão aguda por esse amor antigo.

Porque tenho *A Teoria dos Contos e dos Romances*, de que falarei ao Leitor Amigo em outro post. Porque sou apaixonada por contos, short stories ou novelas curtas como cônjuge fiel que, passados muitos anos, continua segura da sua escolha. Absolutamente segura.

Regozije-se comigo. Eles estão vindo a mim, com as histórias impressas que contam e as histórias ocultas que suas dobras calam.

Tuesday, July 19, 2005

Me and My Bobby McGee

Don't want this

I *always* find myself at PostSecret.

Monday, July 18, 2005

Nêuzea

Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea Náusea

Friday, July 15, 2005

Da ingratidão filial

Ensinei-o a rezar pela Cartilha do Caos, a valorizar o imemorial, a desvendar o inexpugnável. E para quê? Para ter um menino que, aos dez anos de idade, tenta me imobilizar, aos berros, quando pulo no elevador. Que se apavora quando desligo a luz do elevador. Que, em suma, prefere não entrar comigo em elevadores.

Como uma biruta como eu foi parir essa caretice toda?

Bem.
Ele cospe no vão da escada do edifício para ver o cuspe se estatelar láááááááá embaixo.
Ainda há esperança.

Thursday, July 14, 2005

Mantenha distância

* um egopost
Destroçou meus sentimentos quando eu estava numa TPM difícil com seu jeito imperativo de me responsabilizar pelo que era de sua responsabilidade. Não podia sair dali, era o meio de transporte viável para chegar a tempo num local distante 30 quilômetros. Senti-me presa como rato distraído que fosse apanhado desprevenido por ratoeira que não sabia que estava lá. E presa e dolorida cheguei exausta ao meu destino. A tempo. E nem ao menos eu queria aquele queijo.

Olha para mim agora com o receio que somente sentem os que temem represálias. Não percebe que a minha represália é a própria falta de represálias. Lê em voz alta escritos antigos, amarelados por fora e alvos no conteúdo. Lê declamando outros mais recentes e conversa sobre o tempo, as coisas, o mundo. Vejo a ronda que faz, o cerco receoso da fera que aprendeu a respeitar o inimigo. Mas não sou sua inimiga. E é por isso que de mim terá apenas vazio.

Chegou-me aquela voz pelos fios, como vem chegando nas proximidades da mesma data, todo ano. Acreditei-me infensa mas estava errada: dos fios veio a voz que se infiltrou na minha memória ressuscitando cadáveres já devorados pelo tempo, a assombrarem-me todas as noites desde então. Leve sua voz, suas intenções, toda sua vida e seus resíduos para longe de mim. Não agüento mais.

Ninguém abraça o saco-de-pancadas, pois não é da natureza dele ser abraçado. Todavia, às vezes é necessário. Do contrário, pequenas irregularidades, que seriam percebidas nesse trivial abraço, passarão despercebidas. Até que um dia ele despenca. Eventualmente, em cima de você.

Cuidado. Carga inflamável. Perigo.

Wednesday, July 13, 2005

Mine is better

Cuter

Sim. Sempre.

(para Antoní Isabelovitch)

Operação Narciso

Eliana Tranchesi leva todo seu glamour, aplomb e notas calçadas para o footing na PF paulistana.
Gentil colaboração de Daniel Fedrizzi.

A propósito: vocês não adoram os nomes que a PF coloca nas operações? Eu adoro. :)

Tuesday, July 12, 2005

Cuca Fundida

Pifou para você? A terra tremeu? Os anjos choraram?

... e daí você se pergunta, Leitor Amigo, "mas por onde ela anda?!?" Hahahahahaaaaa....

Gatos de U.

"...Pois o gato é enigmático e afeito a coisas estranhas que os homens não podem ver. Ele é a alma do antigo Egito e depositário das histórias das cidades esquecidas de Meroë e Ophir. Ele é da estirpe dos senhores da selva e herdeiro dos segredos da venerável e sinistra África.

A Esfinge é sua prima e ele fala a sua língua.

Mas ele é mais antigo que a Esfinge e se recorda daquilo que ela já esqueceu."
- H.P. Lovecraft, A Maldição de Sarnath, 2ª Edição, Editora Iluminuras, São Paulo, SP, 2001, p.79.

Para a Ruiva Penélope, Rainha Leoa do Glamour Supremo. Que abdicou do trono, do luxo, do poder e dos diamantes da Tiffany para ser uma catus domesticus chez moi. Que dedica todo seu Majestático Amor à minha humana e falível pessoa e guarda, só para mim, seus carinhos e ronronados, na penumbra do quarto, antes de adormecermos.

Thursday, July 07, 2005

Everybody hurts

London July, 07, 2005

Sometimes everything is wrong. And I just can't keep singing alone.

Wednesday, July 06, 2005

Diva

Donna Karan NYFW 2005
DK, mostrando a que veio

E, como tudo se recicla, taí releitura do vestidão pièce de resistánce de Emanuel Ungaro, que fazia as vezes de pano de fundo para a fotografia do perfumão Diva.
Usei o perfume mas queria mesmo era o vestidão...

Tuesday, July 05, 2005

Rei Mago

Na antevéspera do Natal de 1983, ele entrou pela porta carregando um pacote embalado para presente em papel com timbre da Casa dos Gravadores (a melhor loja de eletroeletrônicos da época). Fiquei pulando em volta dele e do pacote perguntando "o que é? o que é?", ele respondendo, com a brabeza que somente é capaz um calabrês de 1,60m de altura e 65cm de circunferência na parte mais esguia do pescoço, "É PARA MIM!"

Era o meu videogame Atari, que tanto queria e que tanto amei que guardo até hoje (e funciona).



No 25 de junho de 2005, ele entrou pela porta carregando um pacote embalado para presente em papel com timbre da Ponto Frio (a loja de eletroeletrônicos mais em conta da atualidade). Fiquei olhando, entre maduramente surpresa e infantilmente exultante, enquanto ele caminhava devagar até a mesa onde todos já almoçavam, até que o susto cedeu um pouco e consegui perguntar "mas, mas, .... o que significa isso?", ele respondendo, com a doçura que somente é capaz um homem que já sofreu muitas perdas e sabe que o tempo e o amor são dádivas preciosas demais para se desperdiçar, "é para ti."

Era o meu DVD, que tanto queria e cuja compra estava adiada para um futuro incerto por conta das despesas que a maternidade e a adultescência impõem.

Monday, July 04, 2005

Alice.

And so it is
Just like I felt it could be
Life doesn't go easy on me
At this exact time

And so it is
Too shorter story
No love, no glory
No hero in my skies

I can't take my mind off of it all
I can't take my mind off it all
I can't take my mind off of it all
I can't take my mind off it all
I can't take my mind off it all
I can't take my mind...

Sunday, July 03, 2005

Feminices

Gloria Coelho SPFW 2006
Gloria Coelho, SPFW Verão 2006, em 03.07.2005

Ser mulher *É* bom. A questão é saber aproveitar as coisas certas (e escapar das erradas).