Thursday, October 28, 2004

Huck Hefner

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A revista Playboy foi fundada em 1953 por Hugh Hefner, egresso da Esquire Magazine. Caracterizava-se a Esquire pelos textos sempre ótimos, de autores consagrados e também de até então desconhecidos, conseguindo o feito de ser revista simultaneamente intelectualizada e vanguardista. Hefner não foi mais visionário do que Calígola ao concluir que o povo queria mesmo era mocotó, tratando de colocar mais moças, e desnudas, para ilustrar o rebento editorial. Sucesso total.

Como no paradoxo entre o ovo e a galinha, não se sabe ao certo o que veio antes: se Hefner gerou a Playboy ou se foi a Playboy que finalizou o lay-out de Hefner. O Playboy Style foi fundamento do slogan mais duradouro da magazine, algo como *a revista do homem que aproveita as boas coisas da vida* - todas elas muito caras, evidentemente. Sucesso mais do que total: além de mocotó, o povo tinha também circo para sonhar e se frustar e comprar. Comprar muito. Hefner foi o melhor garoto-propaganda ever, especialmente porque propagandeava a si mesmo. Todos sabem que o portão de sua mansão, regiamente servida pelas Playboy Bunnies, tem as iniciais *HH* gravadas a ouro. Todos sabem qual o (algo ridículo) traje consagrado das coelhinhas, recentemente envergado por Ana Paula Michels em desfile da V.Rom. Todos sabem que as coelhinhas eram moças lindas e muito bem dispostas a enfrentarem a árdua escalada rumo ao estrelato. É fait accompli.

Hefner está velho - sorridente, mas velho - e aparentemente sem ter para quem legar seu império dos sentidos.

Discordo. Basta olhar e ver: Luciano Huck. É o faro, o tino, o aplomb, a capacidade de apurar de imediato as necessidades mais atávicas, mais instintivas e mais primitivas do homem. Huck engendrou manhas e malemolências sob medida para a libido heterossexual masculina. Chamou as criações à vida, emprestando-lhes corpo, alma e animus. E todas elas ilustraram as páginas da Playboy.

O boom ocorreu em 1999. A primeira foi a personagem Tiazinha, do *Programa H*, na edição de março - primeira vez na História em que se comprou revista de nudez para ver o rosto da modelo. A edição de julho trouxe as assistentes de palco do *H*, Taís e Fabiana. Em dezembro, posou a Feiticeira, também personagem do extinto *H*, envergando o veuzinho que encobria nariz e boca. No ano seguinte, reprise: Tiazinha, agora asssinando Suzana Alves, exibiu upgrade corporal na edição de março de 2000; Feiticeira mostrou a face na edição de agosto de 2000, repetindo o feito da colega de programa televisivo. Em 2001, safra menos generosa: somente uma edição das doze, a de março, estampou na capa (e miolo) uma modelo de Huck, Dany Bananinha, assistente de palco do novo programa, veiculado na emissora Globo. O ano de 2002 contou apenas com a participação da Feiticeira, agora assinando Joana Prado, na edição de abril. Após um período de recesso, em 2004 emplacaram nada menos do que três assistentes, ex ou atuais, do palco do programa: Dany Bananinha com lay-out repaginado, em março (mês de safra da moça); Pietra - que teve participação especialíssima no desfile de verão da V.Rom, cujo mote era exatamente *O Mundo de Playboy* -, em julho e Sandrinha, em setembro. O ano ainda não acabou e não surpreenderia se Ana de Biase, a personagem Salva-Vidas do programa veiculado nas matinês de sábado, ilustrasse a revista de dezembro, como presente de Natal aos leitores.

Na condição de sucessor (produto melhorado, como se espera) Huck se mostra bem mais discreto, quase sóbrio. Muito se fala mas nada se sabe sobre o relacionamento entre ele e as modelos. Tudo indica que é o primeiro magnata do entretenimento que brinca com fogo sem se queimar. Seus relacionamentos se dão com mulheres cuja atividade profissional junto à mídia em muito se assemelha à dele, sem cair na vala comum dos escândalos e baixarias que alimentam a imprensa marrom. Além disso, valoriza o biotipo nacional ao propagandear moças mais encorpadas, bronzeadas e saudáveis do que o tradicional "bacalhau-seco-norteamericano": alvura polar, ossos que saltam à vista, total ausência de curvas do peito para baixo e seios mamelonares.

É um tremendo potencial, em plena floração.
Aposto minhas fichas em Huck Hefner.

Artigo bacana e despretensioso sobre revistas masculinas, aqui.

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