Monday, March 07, 2005

Lentes róseas

O óculos de sol (ou sombra, ao seu gosto) fora comprado em 2002. As lentes eram belíssimas, róseas. O design, maravilhoso - CK, tá boa, Cordelina? Mas ela não usava, porque estava cada vez mais cegueta e não mandava nunca fazer as tais lentes de contato.

Um belo dia, começou o prólogo de querer mudar. Pegou no lindo óculos há anos engavetado. Levou-o naquela ótica especial que fabrica lentes quase tão bem quanto os suíços fabricam relógio e chocolate (e paraíso fiscal). Pediu à linda e loira atendente que fizesse lentes de grau, tão idênticas quanto possível àquela original. Assim foi e assim o mundo tornou-se róseo e nítido para ela.

À beira-mar vestia suas lentes róseas e sentia-se feliz, os olhos não doíam, não franzia mais o cenho para tentar (sem sucesso) focalizar os três graus de miopia e fazer a imagem parecer com algo que não uma pintura impressionista vista de muito perto. Aos poucos, foi percebendo que o róseo da lente deixava o mundo mais bonito: o bronzeado dos passantes era valorizado pelo tom rosado, as imperfeições típicas da feminilidade eram em muito suavizadas. A tez das pessoas mostrava a radiância encoberta por espinhas e poros dilatados. Era um mundo mais suave, mais agradável, róseo porém verdadeiro, pois a lente trazia nitidez tanto quanto revelava a beleza oculta pela luz equivocada. Examinava encantada a redescoberta do belo pelo sutil jogo de cor, exultante e agradecida pelo fato de que a nitidez, desta vez, viera acompanhada de um pouco de gentileza.

A liberdade é azul. Mas a gentileza, essa é cor-de-rosa.

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