Saturday, November 19, 2005

Edulcorante

Diga-me palavras doces, daquelas que sei que não são suas. Diga-as sem modulação, sem suspiro, sem voz, sem emoção alguma, assim, displicentes e jogadas dentro do ouvido como peça de roupa suja. Diga-me da falta que sei que não te faço e das dores que sei que não me tens, da mágoa que de mim nunca te acometeu e dos arrependimentos que sei não carregas. Diga em alto e bom som o vernáculo decorado planejado esmerilhado executado para gerar cativas e não parceiras. Brade, sussurre, murmure, suspire, todas as suas bravatas, tudo o que supostamente te faz grande sobre pés de barro. Negue com seus olhos, suas mãos, seus gestos, o perfume da sua pele, que o primeiro corte é o mais profundo. Cantarole, discorra, decifre, desfie todo o seu rosário de mentiras encantadoras, sorrindo predatoriamente e olhando enviesado com esses enormes olhos ibéricos. Argumente, defenda, obtempere, que sob a pele de lobo há um cordeiro.

Faça-me acreditar.

Ou, ao menos, tente.