Thursday, October 28, 2004

Quem tem medo de Leticia Wierzchowski?

leticia

Autora de romances e novelas, tornou-se nacionalmente conhecida por conta da superprodução baseada em A Casa das Sete Mulheres, veiculada pela emissora Globo. Está nas livrarias a continuação da saga, Um Farol no Pampa, sua oitava obra.

Leticia Wierzchowski não é só saga e tampouco surgiu somente em 2003. Quem lê uma obra assinada por Leticia não esquece. A primeira que li foi Prata do Tempo, editado em 1999. Naquela novela já se evidenciava o talento da escritora. O enredo, a história e a forma como foi urdida tocaram-me profundamente, causando muito desassossego. Precisei de coragem para abrir Cristal Polonês, que me chegou em meados de 2003. Esse me foi mais palatável, mas não menos emocionante. Dois livros escritos por Leticia Wierzchowski que já desbordavam sensibilidade e uma veia inata para achar o ponto nevrálgico do leitor. Dois livros que já apontavam a verve de romancista e o pendor para tratar da dimensão épica* de acontecimentos históricos, evidenciando simultaneamente o viés lógico e o subjetivo.

Desde o estrondoso sucesso d' A Casa das Sete Mulheres há uma ciumeira generalizada revoando sobre o trabalho da autora como gafanhotos na lavoura, aí incluído o lançamento de Um Farol no Pampa. Apontam-na como usurpadora do estilo de Érico Veríssimo. Considerando-se que Veríssimo Pai propôs-se a escrever uma obra com elementos históricos e dimensões épicas*, poderia-se dizer, mediante a aplicação do mesmo raciocínio, que ele usurpou Homero. E John Milton. Curioso, também, que ninguém atribuiu a pecha de usurpador a Luis Antonio de Assis Brasil, quando da edição da trilogia Um Castelo no Pampa. Que se valia de elementos históricos. Que usava a estrutura épica*. Que narrava fatos da história entremeados com a saga de uma família. Que foi publicada em forma de trilogia.

Críticos se aborrecem, ainda, com o enfoque feminino da história. Resmungam que os homens são bobalhões e frágeis e as mulheres, seguras e sábias. É tola a admoestação. Em vista das circunstâncias em que são narrados os acontecimentos descritos, evidencia-se que somente os homens tinham poder de execução. Evidentemente que mulheres fortes e sensatas participaram da história sul-riograndense, brasileira, latino-americana e mundial, mesmo que só nos bastidores. Impressiona que sob a pena de Veríssimo Pai as mulheres voluntariosas e cheias de coragem sejam heroínas que combatem lado a lado com seus parceiros, enquanto que a mesma galhardia é fator de redução de masculinidade apenas porque brotou das teclas do computador da Sra. Wierzchowski.

Triste mundo.
O sucesso dos nossos pares é uma punção ferrenha no nervo exposto da vaidade.

As obras da Sra. Wierzchowski estão à venda também na Livraria Cultura.
Mais sobre Leticia Wierzchowski aqui - antes que me acusem de plágio, sim!, eu li o artigo e sim!, foi por tê-lo lido que escrevi esse post.

* as referências são quanto à forma em prosa do estilo épico.

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