Madame Tussaud não compra nas Lojas Americanas

Não bastava as capas über-photoshopadas de revistas como Claudia, Elle e Playboy, seguindo a grande arte de fazer todos os detalhes humanos se esvaírem e transformar o rosto de pessoas em uma máscara de cera. Agora você pode levar a cara-de-cera para o seu dia-a-dia! Uiuuui! Não é lindo, minha gente, esse visual capa de revista? Ai, amei, Sr. Cabeleireiro-Fazedor-de-Loiras-Falsas-Treze-Tons! (outro que é botocado até ficar encerado)

E fico lendo essas revistas fêminas (blerg!) e pensando ómigod, quem é que compra uma blusa de tricô que custa NOVECENTOS E CINQÜENTA REAIS?! Uma blusa que custa quase três salários mínimos "nacionalmente unificados": o assalariado médio brasileiro tem que trabalhar oito horas diárias e não comer, não beber, não morar, não dormir, não realizar nenhum tipo de necessidade fisiológica, não adoecer, em suma, não existir por três longos meses, a fim de depositar sobre sua cútis o pull anunciado. Oh sim, porque com esse preço, não é blusa, suéter, tricô, é "pull". P-u-l-l. Tá?

Sim, eu vi minhas recentíssimas fotos sem maquiagem, com câmera digital honesta e luz diurna inclemente. Sim, é óóóbvio que eu preferia não ter aquelas dobras, vincos e pintas. Mas oh!, eu os tenho! São as marcas do que vivi (e daí percebo, talvez a tempo, que não tenho vivido coisas exatamente tão agradáveis assim), e aí, vou correndo apagar toda a minha história da minha cara? NÃÃÃO! Não, dona Edith Terebentina Capitulina Manoelina de Jesus Amor Divino! Eu vou é tratar de tentar escrever uma história um pouco mais feliz e leve nesse pergaminho que me restou! Porque Madame Tussaud só me pega quando não conseguir mais correr com meu andador Tabajara, ou quando encontrar com o Sr. Besserman. Esse sim. Eu e ele, usando camisetinha comprada nas Lojas Americanas, que nós não somos obrigados.