Wednesday, May 25, 2005

Aquarius

Era uma vez um cara tão alto, mas tão alto, que não cabia na história. Tinha tanto azar, mas tanto azar, que nasceu sem os braços e no seu lugar havia somente as mãos. Suas mãos eram tão horríveis que não pareciam mãos.

Por ser tão alto, demorou muito mais tempo que os outros para nascer, e nasceu errado. Por não ter braços, nunca teve amigos ou abraçou alguém. Por ter as mãos tão horríveis e disformes, não conseguia pegar nada.

Um dia notou que estava ficando ainda mais alto. As pessoas que antes o desprezavam agora tinham medo. Suas mãos cresciam cada vez mais. Era um ser abominável, sem amigos, sem braços, com mãos enormes e disformes. Era um ser sem sorte.

Num ato de extremo desespero por ser tão alto, por ter tanto azar, por não ter amigos, por não ter braços, agitou tanto as mãos que acabou voando.

Então soube a razão de todas as coisas.

Ele era um anjo.
Um anjo sem braços.
Um anjo muito alto.
Um anjo garoto.

Era anjo porque era bom.
Era anjo porque era justo.
Era justo porque via as coisas de cima.
Via as coisas de cima porque era alto.

Era anjo porque não tinha amigos.
Não tinha amigos porque não tinha braços.
Amigos querem abraços.

Era amigo dos que não queriam ser seus amigos e os abraçava com o coração.

Era anjo porque não tinha sorte.
Não tinha sorte porque não esperava.
Não esperava porque lutava.

Era anjo porque tinha as mãos disformes.
Tinha as mãos disformes porque não eram mãos.
Não eram mãos porque eram asas.

Um dia, enquanto voava sentindo o vento no rosto, a alegria tomou conta do seu ser e ele gritou:
- SÓ OS ANJOS VOAM!!! SÓ OS ANJOS VOAM!!!

Escrita por Elidalberto Maciel Batista em 1996