Friday, February 17, 2006

De cive

Também é mártir quem sofre calado, de terno bem-passado, de batom sem borrão, ou mártires serão apenas os devidamente descabelados, suados, abatidos e lacrimejantes? Sofre menos quem mais chora? Ou chora mais quem menos sofre?

Aquela que corre afilta atrás de Pôncio Pilatos jurando inocência, é a vítima, é a mártir ou é a madalena? Seria ela apenas um peão nesse freak chess de casas marcadas, pensando que se correr bastante, se cruzar o tabuleiro rápido o suficiente, adquirirá os meneios da rainha ainda que nunca o seja?

Haverá a jogada em que o potencial da rainha permanece latente e a cena é levada somente pelas outras peças? Haveria alguma possibilidade de apenas evadir-se daquela sangreira inútil pelo simples fato da náusea daquilo tudo?
Onde está o horizonte, que não o vejo?

Não me aponte o pedestal. Não vou subir e revirar os olhinhos com cara piedosa que não possuo.
Escolho o cavalo e, devagar, vou a galope em "l", embora desse tabuleiro tomado de mortos e feridos de F/X. Nessa querela, ninguém aparou tantos golpes quanto eu - e meu batom sequer está borrado.