Friday, December 10, 2004

Ode à Peçonha

É assim mesmo que as coisas são. Você, mulherzinha vil e traiçoeira, que sabe estar no ocaso da vida e que esse final não será apoteótico, será patético. Que observa, entre cobiçosa e odienta, os meus cabelos, a minha pele, as minhas escolhas de roupas e sapatos, o meu modo de ser e falar, a qualidade do meu trabalho, o perfume que eu uso, a impressão que eu causo. Você, que sabe que o tempo passou, que ele se foi e que suas escolhas não foram felizes, que feliz você não é e que seria mil vezes preferível não ser essa pobre criatura equivocada. Você, que erra ao falar, que erra ao agir, que erra ao omitir-se, que erra ao calar, que erra ao escolher e que erra ao asssentir. Você, que em mim vê os defeitos que são seus, sequer me permitindo o privilégio de honrar aqueles que são meus. Você, que de todas as interpretações faz de mim sempre a mais equivocada, a mais odiosa, a mais venenosa e que sorri torto seu sorriso feio de dentes amarelos maltratados, mal-cuidados, mal-amados, como tudo em você. Você, que de tudo o que tem nada lhe basta, e não houve filho, marido, irmã, neto, sobrinho que lhe suprisse e lhe sublimasse este sentimento de aviltamento, de mascaramento, de rebaixamento. Você, que é baixa, é pequena, é pouca e ousa rosnar para mim suas presas pútridas. Você. Que eu mandaria para o inferno, se ele já não estivesse aí dentro instalado.

--> para a minha detestável colega de trabalho. para todas as mulheres que poderiam ter sido sublimes e optaram pela obliterante insuficiência da pequenez. para a Mesquinha que habita em cada uma de nós.

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