Thursday, January 27, 2005

She ain't heavy. She's my mother.

Hoje é um dia tão feliz porque hoje minha mãe ligou para mim e falou com doçura, como não ouvia talvez há uns bons 25 anos. Não foi ontem, nem amanhã, foi hoje, e hoje o meu ouvido está suave, pingando mel.

Disse-me ela que gostou dos biscoitinhos da confeitaria especialíssima, que mandei pela Claudia, e contou como só ela sabe, essa Sherazade extraviada, os emocionantes acontecimentos do Forum Social Mundial. A voz melodiosa de ave canora ia narrando, com inflexões cristalinas e risadas pontuais, a invasão do prédio público ali perto e o fato de que os polícias não puderam usar força nenhuma contra os sem-teto, porque um bando de foro-socio-mundenses de várias nacionalidades resolveu participar e, sendo estrangeiros, em pleno FSM, houve todo aquele constrangimento.
Ela gostou também, muito, da Marcha do FSM, que passou sob sua janela - ela que agora sente tantas dores e quase não sai de casa, ela que sempre venerou a liberdade como se fosse ave e que agora não pode ir à confeitaria especialíssima satisfazer seus doces apetites de menina pequena. Disse, da Marcha, que "vinha um dragão chinês, encaraminholando-se pela rua, e várias bandeiras, e cartazes, todo mundo querendo tudo! queremos aborto, queremos dinheiro, queremos água... e as bandeiras dos gays, que lindas, com o arco-íris, de todas as formas, arco-íris para cima, em pé, deitado, em losangos que se esparramam".

Mãe, os cartazes e bandeiras dos gays só podem ser lindos e coloridos. Porque brigam e sangram e lutam e sofrem tanto por causa do amor. Que deveria ser lindo e livre e que é tão condenado.

Tudo o que o mundo precisa é de amor, de doçura, mãe. E eu também.

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