Thursday, January 20, 2005

Spleen

O tempo ia passando ela ia pensando que nada daquilo estava valendo muito. Era todo o dia a mesma coisa, dificuldade para dormir, dificuldade para acordar, dificuldade para fazer qualquer coisa, a dor surda-muda-cega que calava no peito, nas costas, na base da coluna, nas pernas, nos quadris e subia como um foguete para a cabeça, onde perdia todo o pudor e se punha a uivar como prima-dona, como pomba-gira.

Todos os escapes, tudo o que fazia e pensava para não encarar a face cinzenta da vida. Para não levar às últimas conseqüências. Para não chegar ao momento limite, porque, e depois? O que seria de todos eles, dela mesma, se no confronto cara-a-cara ela saísse perdedora? Assim ia, empurrando os dias com a barriga que não parava de aumentar, morrendo um muito a cada dia. Sentindo todo o seu ser fenecer naquelas horríveis retrospectivas no caminho do trabalho, quando caía em si que os anos que deveriam ter sido doces tinham gosto de hóstia e foram engolidos e deglutidos sem nenhum amor. Olhando-se no espelho, cansada de guerra, percebia em si cada vez mais aquilo que mais repudiara e enojava-se da sua fraqueza. Mas a repulsa, em vez de gerar a raiva purificadora que impeliria seus pés a caminho do SIM!, apenas lhe abatia mais e mais, adormecendo os sentidos que fechavam apertado os olhos no meio de tanta decadência. Amargurada e entorpecida, ia para a cama. Porque amanhã não é outro dia,

amanhã é mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia, mais um dia...

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