Friday, November 05, 2004

A garota do adeus

goodbye girl1
Não, não me abandone
Não me desespere
Porque eu não posso ficar sem você


Filmes que vaticinam destinos. Assisti The Goodbye Girl na aurora da minha infância querida que os tempos não trazem mais. Mesmo muito pequena, o impacto subjetivo não se me escapou: em cada take, um crash.

Nascemos todos para ouvir adeuses. Isso é líquido e certo. A sonegação do leite materno. A despedida da mãe no portão da escolinha. Os pais que saem para o trabalho. O coleguinha de mudança para outra cidade e aqueles que apenas trocam de colégio. Os outrora melhores amigos que nos dão as costas. As desilusões amorosas de todos os tipos. Os foras, os pé-na bundas. A indiferença surda do namorado. O silêncio indiferente do companheiro. Os filhos despedindo-se no portão da escolinha. Os filhos e seu desejo de independência. Os filhos partindo para a vida adulta. Os filhos dos filhos repetindo o ciclo. A morte dos pais. A morte dos grandes amigos. A própria morte.

Confesso que sou inepta. Não aprendi a ouvir adeus. Você me olha e quer se despedir sorrindo, mas não consigo, não está em mim. É como morrer um pouco e sem consolo de saudades. Saudades são dores surdas como socos bem colocados, que não deixam marcas mas tiram o fôlego, aquele ardor sufocante subindo garganta acima e nunca há lágrimas suficientes para lavar da alma essas marcas.

O sofrimento vem em diversas gradações. Várias embalagens e sabores, para todo o tipo de paladar. Sim, depois de algum (ou de muito, muito, muitíssimo) tempo, tudo se abranda e a tendência da criatura conservacionista humana é lembrar somente os bons momentos, amaciando, assim, a dor pungente da saudade, naquilo que se convencionou chamar *nostalgia*.

Hoje sou nostálgica de muita coisa e ainda serei de muito mais.
E a tristeza que celebro nesse texto é da despedida do Noronha. Da dor de sabê-lo distante, de não tê-lo no meu cotidiano. Da sua sonegação, do seu abandono, do seu fora, da sua indiferença, da sua partida. Da pequena morte de algo em mim.

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