Flesh + Blood - Parte I
Vergílio tinha conhecido sua mãe. Diferentemente do que ocorrera à esmagadora maioria da população adulta jovem que sobrevivia naquela megalópole, a mãe de Vergílio lhe carregara no próprio corpo, como faziam Os Antigos em tempos imemoriais e incivilizados. Ele fora concebido, longamente aguardado e introduzido ao mundo de uma forma que havia sido abandonada há muito, inclusive pelos animais - há muito todos se reproduziam somente in vitro, de forma higiênica e segura.
Ao nascer, Vergílio fora parcamente limpo e posto para sugar o seio da mãe, que o carregara durante a aberrantemente longa gestação de nove meses. O Fluido saíra fácil do seio da mulher e foi assim que ela o alimentou, numa espécie de canibalização inaceitável nos dias de hoje. Vergílio era temido: não era natural uma pessoa nascer dessa forma e, ainda, continuar vivendo. Esperavam-se dele comportamentos desviantes e degradação biológica. Os jovenzinhos fitavam-no com assombro, comentando, de olhos arregalados, sobre antigas histórias de seres humanos que viravam monstros por causa do plenilúnio ou por ingerirem substâncias químicas preparadas em sombrios laboratórios. Vergílio, já habituado às mudas repreensões, limitava-se a caminhar pelos estreitos passadiços das vias de alta velocidade, conduzindo o corpo esguio e flexível como quem porta uma rara jóia.
Ele conhecia os mistérios da carne. Sabia como era o cheiro do corpo de uma mãe e havia provado O Fluido que o seio delas produzia. Por três anos, a mãe de Vergílio puxou-o ao regaço, sussurrando-lhe a Mitologia dos Antigos enquanto ele sugava. Vergílio sempre soubera que as histórias aconteceram mesmo, não eram como as Lendas Biológicas engendradas pelos geniais profissionais da Bio Tech. Ele sabia sobre a carne e lembrava grandes trechos da Mitologia. Era um homem deveras perigoso.
(to be continued)
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