Thursday, December 23, 2004

Das coisas que fazemos com as mãos

borboleta

Foi com as mãos que te peguei no colo, assustado da chegada. Com as mãos enchia a banheira plástica de água para o momento mais feliz do teu dia. As mesmas mãos livraram, tanto quanto possível, o desconforto do corpinho novo recém começando a funcionar. Mãos que seguraram as tuas quando insistias em caminhar pela casa inteira por três horas ininterruptas - porque engatinhar era coisa do passado.

Com as mãos, e mais, com os braços, te segurei inteiro quando acordavas da anestesia, com apenas um ano de idade. Essas mãos que prepararam milhares de mamadeiras e ainda todas as comidas que te fizeram declarar "mãe, tu não cozinha muito bem". As mãos que seguraram as tuas na cadeira da dentista. Mãos que muitas vezes cobriram meu próprio rosto quando, esgotada, tinha vontade de abandonar tudo e sair pelo mundo sem pensar em filho, trabalho, dinheiro. Palmas que ainda hoje espalmam com a tua, no único momento que ainda permites: a hora de atravessar a rua.

As tuas mãos, cada vez maiores e mais fortes. Tudo em ti, crescendo e fortalecendo. Logo vais dispensar as minhas e experimentar tudo apenas com as tuas próprias mãos. Erros serão inevitáveis, saiba de antemão - e eles também ensinam, também nos pegam pelas mãos, para mostrar o que NÃO devemos fazer.

E quando estiveres cansado, esvaziado, e as tuas mãos não te parecerem suficientes para conter a frustração, essas mãos meio velhas e já marcadas estarão aqui esperando. Não para fazer coisas para ti, ou por ti. Mas para espalmar com as tuas enquanto tu traças teu próprio destino.

Filho, às vezes a vida é como um Paintbrush. Nada sai retinho. Por isso que é tão bom.

--> Para Antonio, com amor, no Natal de 2004