Monday, December 13, 2004

Manhattan, Brasil

Uncle Filthy McNasty cantou em boa prosa o suor e talento de residir em Manhattan. Leitura deliciosa e obrigatória.

Digo-lhe, Leitor Amigo: residir no Centro de certa cidade no sul do país pode parecer-se muito com manhattanear. Não possuo mais carro (foi furtado, schuif, e isso será tratado oportunamente), vou a pé para tudo. Tem livrarias boudoir-style no caminho entre o "super"mercado que vendem coisas imperdíveis e não encontráveis em nenhum outro lugar - à exceção de Pesadelos e Paisagens Noturnas, de Stephen King, totalmente desaparecido e escafedido do mercado editorial nacional. Contamos com sapatarias que efetivamente consertam seus sapatos e bolsas, ao lado da livraria milagrosa. Os mantimentos e bens não-duráveis são adquiridos e levados para casa aos pouquinhos, porque não há carro e não dá para entulhar um apartamentinho de sessenta e oito metrinhos quadrados de área com comidas, móveis, roupas. Na perpendicular do "super"mercado há uma quitanda que vende de carambola a caju, passando pela romã e fruta-do-conde - mas infelizmente não há pequi. Ainda, porque já pedi para o quitandeiro. Lavanderias de todos os tipos grassam para todos os lados: cada rua tem a sua. Há bareszinhos boêmios tradicionalíssimos, onde voltimêia dá uma enorme engresilha entre bebuns. Os cinemas ditos alternativos da cidade encontram-se, à exceção de um, no Centro - e tem sempre algum estabelecimento vendendo um expresso bem-tirado logo ali ao lado da sala de projeção. Há as figuras folclóricas que integram o lúmpen urbano, que eu tanto aprecio e admiro, de certa forma. Tem transporte para todo lado. Tem o metrô de superfície, que tomo todo dia para ir trabalhar. E tem gente extravagante, como eu, que faz happy hour no porto da cidade, com garrafa de cerveja (verão) ou vinho (inverno) e copos de cristal, previamente acondicionados em qualquer sacola de qualquer loja.

Fica aí a sugestão: faça turismo na sua cidade. Afinal, a vida é uma deliciosa viagem.