Tuesday, May 30, 2006

Ticcia e as sincronicidades secretas

Monday, May 29, 2006

Cowboys and Angels*

Saiu a matéria aqui, com participação especialíssima.

Foi a participante especialíssima quem falou-e-disse aos meus sentimentos e modos de ver-viver a vida. Tenho que podem ser resumidos, muito resumidamente, no seguinte: se você vive bem sozinho, viverá bem acompanhado; se não vive bem sozinho, não será a companhia que resolverá o seu problema de alcançar o bem-viver.

Não bateu bem o subtítulo que a jornalista escolheu, essa história de "não abrir mão da solteirice para namorar alguém que não corresponda a *todas* as suas expectativas". Porque nenhum ser vivente real corresponde a todas as expectativas de outro. Só se as pessoas ditas 'sóssingulares' forem muito sábias e pés-no-chão para saberem manter as expectativas dentro de uma certa razoabilidade. Não as conheço, não sei se são assim e tendo a pensar que não são: é da natureza humana ter expectativas irrazoáveis, porque nos é dado sonhar e, em sonhos, nem mesmo o céu é o limite.

Daí que meu testimonial a respeito, a minha experiência, o meu caso, foi que os chavões do eu-me-basto, eu-estou-melhor-assim foram usados quando meus sentimentos estavam tão terrivelmente feridos que não havia a menor possibilidade de contato, sequer de levantar as ataduras para dar um oizinho. Talvez a sóssingularidade sirva como um período de pausa e reflexão, de autoconhecimento. Talvez seja simplesmente que não sirvo para ser sóssingular - *eu*, que sou fóbica social. Porque por trás dessas lentes, dessa tela, de qualquer tela, sempre bate um coração.


* The future may still give you a chance.

Friday, May 26, 2006

Fome e frio

Há um fogo incipiente em mim, brasa que não inflama nem se apaga, apenas arde mais acesa e rubra com os golpes arautos do inverno que se acerca. São tantos quereres - mas tantos pesares -, que não notas, e ninguém mesmo notaria, as chamas dançando no escuro fundo de meus olhos ausentes de cor quando te fito consumida de um desejo vil que mal veio e já se foi (para nosso mútuo entendimento e segurança). Sim, te quero e logo já não quero, pois sou tão fêmea quanto efêmera e vadia, e no poço viscoso e negro de tudo aquilo que não mostro viceja a necessidade permanente e faminta de tê-los, a ti e a todos, tudo, ao mesmo tempo, e sem perder uma só gota.

Wednesday, May 24, 2006

Cabuns diversos

--> Num braço, é na mão; no outro, está chegando ao ombro. Os antiinflamatórios, as fisioterapias, não estão mais rendendo. Deve ter um encosto montado no meu pescoço, como no filme thai. Aquele. Que, se você não viu, não vá ver, acabo de spoil it.

--> O filho vem encontrando reiterados bilhetes dizendo "eu vou te matar" no armário do colégio. Smells like Columbine, alguém, ou só eu? Sabia, eu sabia todo o tempo, mesmo então, que aquelas quatro, dez, inúmeras noites *E* dias sem dormir não eram nada comparado com o fato de que algum dia ele não caberia mais no colo e teria que trilhar sozinho os seus caminhos, afastando com suas próprias mãos as ameaças, não importando quantos espinhos se cravem na palma.

--> Corro, corro, corro. Continuo no mesmo lugar. Alguém me tira de cima dessa maldita esteira, por favor!, por favor!, rááápido....

--> Os cabelos. Ha! que cabelos?! Para onde vocês foram, meninos? Voltem! (mas não voltem brancos! brancos não, já chega!)

--> E aí você descobre que gosta de cozinhar - melhor ainda, você descobre que *consegue* cozinhar, e fica até bem bom! - e leva seus quitutes para a família (sempre ela, essa eterna mártir e carrasca) conhecer e ovacionar e, voilá, quem mais aprecia sua comidinha é o homem, digamos, errado, que elogia efusivamente e daí a mesa do almoço se converte numa arena de batalha, com nada menos do que a sua genitora declarando em alto e bom som o quanto você é inferior à sua irmã. Éramos Seis, Sr. Nelson.

--> Apesar disso tudo, estou sorrindo. Que que há, afinal? É a Marmota do Paradoxo.

Saturday, May 20, 2006

She-Shylock

C., você me deve dinheiro. Pague logo ou case-se comigo.

(e nem uma gota de sangue. nem uma.)

Wednesday, May 17, 2006

Fluxo Real Liso

--> O povo em Cannes está rindo desbragadamente do Código Da Vinci.
Acho que vou ao cinema rir também. Porque, francamente. Fazer Tom Hanks e Audrey Tautou chegarem de locomotiva (?!?) com a imagem da Mona Lisa (?!?!?!) não dá. Não dá.

--> Da Vinci himself deve estar se revirando na cova. Pior do que terra de cemitério plus pedaços de boneca.

--> Risotto alla milanese e medalhões de filé para amanhã. Porque, ah. Porque sim. E onde se encontra açafrão nessa cidade?

--> O que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou.

--> Sou uma boneca vodu que deu errado.

Thursday, May 11, 2006

Mureta

Walking On The Wall
Veja, mamãe! Sem as mãos!


É universal: em todo lugar que tem um murinho, uma saliência linear que acompanha o contorno da estrutura, há uma criança caminhando (ou, ao menos, querendo) por cima. É parte insofismável do crescimento, como engatinhar: se a criatura não caminhou o suficiente de mãozinha dada quase sempre com a mãe (esse ser forçosamente paciencioso que passa mais tempo com os filhos), algo lhe faltará. Talvez algo que será resgatado levando os seus pequenos para caminhar infindavelmente sobre a mureta, suspirando de satisfação e alívio por ter restabelecido a ordem natural das coisas.

Está ao alcance de qualquer mãe (e pai) de qualquer condição social - até das mais abastadas, que democrático - atender ao pedido do filho para que se segure a sua mão ao caminhar sobre a mureta. Não custa nada, não dói e requer um mínimo de paciência - por parte do genitor -, de equilíbrio - por parte do filhote - e de tempo. Até porque o jogo da impaciência/desequilíbrio/pressa integra o pacote e é o que gera as dificuldades que vão aumentando, como em um videogame. Afinal, pensavam vocês que era sempre a mesma muretinha, bem devagarzinho? Não. Não é. Tacitamente as dificuldades vão aumentando, até que - voilá - um dia o filhote faz o caminho sozinho pela primeira vez. Ele cairá, e faz parte do jogo cair. Se haverá novamente uma mão maternal no meio do caminho, ninguém sabe, nem os próprios mães e pais, que com isso se angustiam às vezes noites inteiras. Sabe-se apenas que é preciso subir novamente para caminhar sobre a muretinha. Dá para caminhar lá embaixo? Ah, sempre dá. Mas sobre a muretinha é bem mais divertido.

E de mureta em mureta, cada um tem a sua. O mundo oferece muretas de todos os tipos e tamanhos, há muretas para todos, e todos com elas se encantam. As muretas desde sempre intrigam o homem, pois ninguém me convence que a Muralha da China foi criada somente para proteção e delimitação: sou convicta de que a prodigiosa Muralha foi sobretudo construída para que se caminhasse sobre ela.

Há quem escolha muralhas, há quem prefira a corda bamba sem direito à rede de proteção. Outros não largam por nada a sarjeta, que é onde a lua se revela e sempre brilha mais veraz. Seja qual for a sua escolha, se foi opção pura ou conseqüência de uma miríade de atos, fato é que se aquela que mais tempo lhe dedicou não tivesse lhe sorrido (às vezes, só assentido) e estendido a mão para garantir o apoio naquela nova empreitada, jamais teria havido uma primeira caminhada sobre a mureta. Haveria, sim, uma apreensão muda, surda e doída: será? e se não for assim? e se não der? e se doer? e se eu falhar?

Se falhar, bem... a mureta continuará ali. Você também. E isso é o suficiente.


Para minha mãe, que me ensinou que a mão para me apoiar estava sobretudo no escuro fundo dentro de mim. Mas que me amparou em todas as vezes em que eu caí.
Um feliz Dia das Mães para a Guerreira de coração mais mole desse mundo.