Thursday, March 31, 2005

Chipando cedo (ou não)

Serão Isáurico hoje, como você pode ver, Leitor Amigo.

Antes, porém, passei em uma loja de disco (esse lugar pré-jurássico onde só vai quem não é suficientemente competente para garimpar com êxito na web, tal como Momô Indiana Jones) e trouxe comigo Hotel, do Moby.

Pão e circo, pessoas. Pão e circo.

--> E o hitão rebolatif é Very, com pegadinha disco early 80's.

Wednesday, March 30, 2005

Calipígio, head over gold

Hoje era dia de artes marciais para o pequeno. O acompanhante oficial estava adoentado, por isso a progenitora profanou o local sagrado da orientalidade com seus pés e hálito de fêmea, bem cedo pela manhã. Entrando no prédio, o semblante do menino adquire ares sérios. Olhar compenetrado, ele é todo concentração. Lábios e testa franzidos colaboram para que a energia não perca o foco.

Começa o aquecimento. É o mascote da turma, uns dez anos mais novo do que qualquer um ali. São precisos porém muito doces os seus movimentos de filhote que brinca com a mais profunda seriedade e reverência. Do corpinho jovem em ritmo acelerado de crescimento emana um brilho suave pois, porque tão novo, reflete a luz com incomensurável pureza. Tudo nele se adelgaça, alonga e expande. Não tem mais os ombros estreitos de criancinha pequena e o prenúncio de músculos peitorais bem desenvolvidos já está lá, numa promessa que garante que será cumprida.

Paro de olhar porque percebo que ele se desconcentra e se desconcerta, mas ao cabo de algum tempo, constatando que estão treinando técnicas de combate, volto a observar e sou premiada com a visão mais emocionante dos últimos meses. Ele faz movimentos de luta com o bastão, girando-o incessantemente em torno do corpo, em posições de ataque e defesa, numa belíssima coreografia. O rosto jovem concentrado, os olhos oblíquos mirando o infinito, gotas de suor orvalhando a pele tenra. Nesse instante, os raios de sol vencem a camada de nuvens e refutam a meteorologia que previa dia nublado, emoldurando a figura séria do pequeno guerreiro Jedi. A luminosidade o envolve e seus cabelos, cada vez mais castanhos, mostram que ainda guardam, e talvez sempre guardarão, laivos de ouro da criança de cabelinhos cor de areia que, sabiamente, brincava com a máxima seriedade, ensinando que nada na vida é mais importante do que levar a sério a nossa própria alegria.

Ele me vê, e quase erra. Retiro-me, emocionada.

E, ao vê-lo voltar para o vestiário ao final da aula, percebo a infinita beleza dos seus glúteos musculosos, torneados como gomos de tangerina sobressaindo-se na calça folgada do quimono.

Monday, March 28, 2005

O extraordinário é demais

mogli
Necessário, somente o necessário...

Quando você pede, e não vem.
Quando você reitera, e não tem resposta.
Quando você precisa, e daí recebe algumas migalhas.
Quando você implora, suplica, e de má-vontade lhe dão um simulacro do que foi solicitado,

é porque....

você é supérfluo.

Tuesday, March 22, 2005

Plebe Rude

Noite já caiu. Saindo da loja que está fechando, samba em volume alto. Um monte de gente olhando. Paro e olho também o casal dançando samba. É uma promoção arrebanha-cliente (bem inteligente) de uma academia bastante modesta, mas com muita vontade de ser feliz.

Sai o casal sambista, entram meninos dançando funk. Abomino funk, mas não tem como não gostar dos garotinhos, provavelmente dez anos mais novos que eu, mexendo-se animados. Os glúteos tão redondinhos, o volume na frente da calça, os bíceps, tríceps, quadríceps e fórceps tão bem torneados. Eles seguem fazendo *aquelas* evoluções típicas funkeiras, as colegas de academia gritam, incentivando. Sorrio.

Saem os meninos. Entram as meninas. Dançam funk daquele jeito que eu, você e todo o país já viu, em todos os canais da TV (blarg) aberta. Elas sorriem nas suas calças de supplex bem ajustado em curvas modeladas. Elas quebram a cinturinha balançando o quadril carnudo de elipses perfeitas. Elas brincam com os rapazes da audiência, tirando-os para dançar.

Quase todos tem pele preta ou parda. Eles são jovens, sorriem, suados, felizes na sua intimidade grupal. Eu, nem tão jovem, suada por doze horas de jornada e sem qualquer intimidade com os presentes, sorrio também. Por mais livros que tenha lido, por mais potes de sorvete que tenha comido, por mais férias na praia que tenha tido, eu sou tão Plebe Rude quanto eles, y me encanta todo eso.

Monday, March 21, 2005

Like the desert miss the rain

Saudade, palavra triste.
Saudade é googlar o nome das suas duas melhores amigas *éver* só para ver o nominho delas na tela, o número da OAB que você já conhece, trabalhando naquilo que você já sabe que elas trabalham.

E neste calor do cão desta cidadezinha, começam a chover abençoados grossos pingos.

Saturday, March 19, 2005

Pacta sunt servanda

Eu e a manteiga temos um acordo: jamais seremos magras.

Friday, March 18, 2005

A irmã do Sonho

Quem leu Sandman, de Neil Gaiman, sabe que Morpheus, um dos Perpétuos, tem entre seus irmãos a Morte. E, no universo Gaimaniano, a Morte é uma linda, descolada e (principalmente) sábia mulher, que leva seus convidados com mistério e cerimônia, tal como a cortesã conduz à alcova.



Ultimamente, a misteriosa dama vem rondando o núcleo familiar e suas adjacências. Parentes de parentes, parentes em linha direta, colateral. Parentes que não são meus, mas são do menino ainda pequeno, e ele os chora. E é difícil segurar a mão dos que ficam. Eles restam desconsolados porque, quando A Dama tira para dançar, é para sempre.

Ao fim e ao cabo, tenho feito o que faço melhor: cuidar da roupa suja. É organizando as coisas, pagando as despesas e providenciando o que precisa ser feito que consigo prestar algum auxílio e, talvez, processar a minha perda.




Dá para ter alguma idéia de como Caronte se sentia.

Wednesday, March 16, 2005

Première

Disclaimer: Esse blog nunca fez homenagem para aniversariante, porque queria começar com a Dona Camomila. Ocorre que a estagiária-editora-repórter-faztudo do blog estava hospitalizada e sem acesso à internet naquela data tão querida.
Mishappenings pede perdão à Dona Camomila, lembrando sempre que ela descende dos gatos e é a rainha do meu coração. Dona Camomila, como a aquariana maravilhosa que é, certamente vai juntar-se a nós nessa première homenage.

O dia de hoje é aniversário da Ticcia. Sei disso porque ela me convidou para o encontro de seus amigos. Legal!

O Mishappenings, com sua mania de ser pós-vanguarda e de não dar satisfação, tem um pendor especial pelo BREGA. Brega é Chique, já dizia o saudoso Dusek. Por isso, convidamos o Rádio Táxi para homenagear Ticcia, essa mulher romântica que não tem medo de amar (eu tenho), que sabe que viver com medo é viver pela metade.

Ticcia, seja muito feliz! Deseja-te o Mishappenings que alguém muito muito especial cante Rádio Táxi ao teu ouvido:


"Ticcia! Nossa musa!"

Minha pequena Eva (Eva!)
O nosso amor na última astronave (Eva!)
Além do infinito vou voar
Sozinho com você

E voando bem alto (Eva!)
Me abraça pelo espaço de um instante (Eva!)
Me cobre com teu corpo e me dá
A força pra viver

Beijos!

Mais testes


YELLOW



You are very perceptive and smart. You are clear and to the point and have a great sense of humor. You are always learning and searching for understanding.




Find out your color at Quiz Me!


Tuesday, March 15, 2005

L'état c'est moi?

Oh. Estou espantada. Eles erraram feio - bem, nem tanto. Quando o bipolar está no mode eufórico on, é bem assim mesmo.
Conta pra mim qual é o seu planetinha, Leitor Alien.




You Are From the Sun



Of all your friends, you're the shining star.
You're dramatic - loving attention and the spotlight.
You're a totally entertainer and the life of the party.
Watch out! The Sun can be stubborn, demanding, and flirty.
Overall, you're a great leader and great friend. The very best!


Friday, March 11, 2005

HÃ?!?

(texto publicitário daqui - ver Tendências)

"Um espaço para as profusões e os delírios. Atmosfera andrógena underground de visual decorativo. Um universo capaz de absorver a áurea esportiva,
reinterpretando-a para a casualidade do dia-a-dia."


OK. Entra speech: "Amiguinhos, preciso urgente de profusões de acessórios delirantes e andrógenos underground, mas com uma áurea bastante esportiva! Tá?"

Guilty as charged

Tania sempre soubera que alguma coisa no seu corpo se desprendia em ondas quando estava perto dos homens. Ela não era bela, mas tinha know-how. Suas insinuações de obscenidades veladas, seus sorrisos repletos de convites impronunciáveis contrastavam vivamente com a postura de classe e distanciamento que adotara para a vida. Despertava desejos febris o paradoxo de que aquela dama tão culta e refinada fosse capaz das maiores imundícies, e deleitando-se todo o tempo, e pedindo mais.

Fabrício era um cara simples, que ambicionava a simplicidade de uma vida simplificada. Sem anseios. Sem desejos. Sem disputas. Só a placidez de um dia após o outro, vendo o tempo passar como as águas mansas de um riacho oculto, sorvendo em largos goles os produtos da criatividade humana, em artes e livros e músicas e filmes. Experimentara algumas poucas aflições e angústias e decidiu que seria melhor se a afeição não fizesse parte do córrego tranqüilo da sua existência.

Até que encontrou Tania.

Ela fustigava-o com palpites e informações. Ela se aproximava e confundia-o com o calor do seu corpo e o cheiro do seu perfume. Ela fazia observações e ingerências até então impensáveis, muito arguta, muito aguda. Nos olhos de Tania dançava uma labareda louca, alimentada pela malícia do jogo de palavras e argumentos que sempre propunha e também por todas as promessas inconfessáveis que fazia sem nada dizer.

Fabricio sentia-se incomodado, invadido até, como alguém que dormia feliz e é acordado de supetão. Assustado. Alerta.

Sem perceber, começou a atentar para as formas femininas, as curvas, a maciez, o brilho dos olhos, a textura dos cabelos, o cheiro da pele. Pouco a pouco veio vindo em golfadas uma fome sem nome, ancestral, atávica, sentida apenas por aqueles que dormiram por muito tempo, tempo demais, até que se descobrem despertos. Passou a sorrir mais. Falar mais. Seus olhos adquiriram vida e brilho, mirando as fêmeas recém (re)descobertas com ares predatórios. Passou a sentir-se estimulado pelos desafios de Tania, passando horas a devanear como seria saciá-la, perder-se na sua ardência. Ela sorria, cheia de calor, sugerindo roupas e cortes de cabelo. Elogiava a camisa nova, o cabelo mais comprido e não perdia oportunidade de descansar a mão de longos dedos em seus braços, ombros, costas, num contato que inflamava ao toque e doía quando cessava.

Chegou o dia em que um homem que poderia ter saído de uma passarela parisiense veio buscar Tania, e beijou-a e tocou-a como se fosse sua, invadindo com cruel familiaridade todos os recônditos com que Fabricio sonhava de olhos abertos. Fabricio não olhou mais nos olhos de Tania, para que ela não visse a mágoa recém-descoberta (e o espanto dessa dor inesperada) e, principalmente, para ocultar o desejo sôfrego que só aumentava ao sabê-la alheia.

E, no dia seguinte, cortou os cabelos.

Wednesday, March 09, 2005

Randômicas

--> Trilogia Matrix: não tem anticlímax maior do que Matrix Revolutions. O Reload até é bonzinho, mas o Revolutions.... tsc.

--> Show de Lenny Kravitz, quem diria, na minha cidade-natal-cartão-postal. Saiu no Pasquim Diário, contracapa do caderninho de entretenimento, que Mr. Kravitz quer uma festa privê no apê do seu hôtel, e que, para tanto, foi encomendado um monte de caixas de Kleenex (um novo hype em festa, todo mundo se abraça e chora muuuito). Para tanto, a produção convocava moças da região, fluentes na língua nativa do artista e que conhecessem bem a cidade. Eu (e milhares de outras mocinhas ou nem tão mocinhas assim) pensamos em nos candidatar voluntariamente, mas daí os empecilhos: 1) ser groupie agora? give me a break; 2) para que diabos tantas caixas de Kleenex? Eu, hem.
--> Mas o ingressinho está comprado e o Casaco Branco, garantido!

--> As coleções para o inverno trazem botas sem salto. Uso botas sem salto desde 2001.
--> As coleções para o inverno trazem saias godê/evasê. Uso saias godê/evasê desde... putz... 1998?
--> As coleções para o inverno trazem blusas de tecidos diáfanos. Uso blusas de tecidos diáfanos desde 1990.
--> As coleções para o inverno trazem pele falsa. Uso pele falsa desde 2000.
--> Conclusão: sou a vanguarda desse inverno, glad to meet ya! (mas só desse, viu?)

--> P.D. James, grande dama da literatura inglesa, vem-e-vai comigo no trem para o trabalho. Agatha Christie, le première dame toujours, fez-me companhia à beira-mar e distraiu minhas recalcadas células cinzentas em momentos de bad trip angustienta. Oh. Confesso, sem falsa modéstia: sinto-me tão inglesinha. Assim, sweet misery, essa linha desculpa-se-eu-existo. É o meu charme, benzinho. Gargalhar do ridículo Picasso que fiz de minha vida. Chamar a fera. Tirá-la para dançar. Beijá-la na boca e vaticinar "ao menos diga que me ama".

Tuesday, March 08, 2005

Vamos celebrar a estupidez humana

Hoje é "O Oito de Março", dia da mulé. Francamente. Embora os lindos textos que li, persisto na idéia de que manter a idéia de um dia dedicado à mulher é perpetuar um símbolo de opressão: ora, para que se precisa um dia especial para honrar as mulheres? Mulheres (e homens e crianças e velhinhos e velhinhas e púberes, por mais chatos que sejam) devem ser honrados TODOS os dias.

Mas é assim com tudo que é data festiva, momentos de expiação de culpas judaico-cristãs. O dia das mães e dos pais e até das crianças são marcados por cartões dedicados a fazer chorar e presentes muitas vezes caros ("dê jóias para sua mãe! dê um celular/carro para seu pai!") que, judaico-cristamente, substituem o carinho e o respeito que devíamos ter por quem amamos, em todos os dias de nossa vida.

O dia da mulé não é muito diferente, e se assemelha ao dia do trabalho por ter sua gênese em uma tragédia. O Oito de Março de 1857 foi marcado pela morte de centenas de operárias, queimadas por policiais em uma fábrica têxtil de New York. O motivo da resposta dura e quente dos homens da lei: elas reivindicavam a redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas e o direito à licença-maternidade (veja bem, de CATORZE horas para DEZ horas diárias de trabalho E licença-maternidade, que vadiagem!). Em homenagem às vítimas, o Oito de Março foi instituído em 1911, por algum político marqueteiro norteamericano (EEUU, the home of the marketing), que apresentou a proposta à ONU que, por sua vez, vendeu a xurumela a todos os países ocidentais.

I'm sorry, all you folks of the media and the marketing, mas eu NÃO quero celebrar a data em que mulheres trabalhadoras, que lutavam por um mínimo de dignidade e respeito, viraram churrasquinho. RECUSO-ME a sentir-me homenageada, bonita, faceira ou feliz nesse dia, e não há jóia, carro, celular, Lancôme ou Moschino que me façam mudar de idéia.

Não vou celebrar a estupidez humana e conclamo você, Leitor Amigo e Leitora Amiga, para que se junte a mim.

Em vez de agradecimentos bobos e derretidos para sua funcionária, sua empregada doméstica, sua irmã, sua mãe, sua filha, sua chefe, em vez de rosinhas baratas na porta dos supermercados ou postos de gasolina, em vez de balinhas ou bombons envoltos em tolos papéis rosa com fitinhas, sugiro a abolição do Oito de Março e sua substituição por uma atitude global de mais dignidade, respeito e carinho pela Mulher. Mesmo que ela seja sua rival. Mesmo que ela tenha ido ao seu casamento sem convite. Mesmo que agora ela namore seu ex-namorado. Mesmo que ela ganhe mais do que você. Mesmo que ela limpe o seu vaso sanitário.

Fica o desejo que todos nós, homens e mulheres, saibamos ter amor, paciência, complacência, compaixão com os que nos são caros. Nos momentos de conflito e em todos os dias de nossas vidas.

Monday, March 07, 2005

Lentes róseas

O óculos de sol (ou sombra, ao seu gosto) fora comprado em 2002. As lentes eram belíssimas, róseas. O design, maravilhoso - CK, tá boa, Cordelina? Mas ela não usava, porque estava cada vez mais cegueta e não mandava nunca fazer as tais lentes de contato.

Um belo dia, começou o prólogo de querer mudar. Pegou no lindo óculos há anos engavetado. Levou-o naquela ótica especial que fabrica lentes quase tão bem quanto os suíços fabricam relógio e chocolate (e paraíso fiscal). Pediu à linda e loira atendente que fizesse lentes de grau, tão idênticas quanto possível àquela original. Assim foi e assim o mundo tornou-se róseo e nítido para ela.

À beira-mar vestia suas lentes róseas e sentia-se feliz, os olhos não doíam, não franzia mais o cenho para tentar (sem sucesso) focalizar os três graus de miopia e fazer a imagem parecer com algo que não uma pintura impressionista vista de muito perto. Aos poucos, foi percebendo que o róseo da lente deixava o mundo mais bonito: o bronzeado dos passantes era valorizado pelo tom rosado, as imperfeições típicas da feminilidade eram em muito suavizadas. A tez das pessoas mostrava a radiância encoberta por espinhas e poros dilatados. Era um mundo mais suave, mais agradável, róseo porém verdadeiro, pois a lente trazia nitidez tanto quanto revelava a beleza oculta pela luz equivocada. Examinava encantada a redescoberta do belo pelo sutil jogo de cor, exultante e agradecida pelo fato de que a nitidez, desta vez, viera acompanhada de um pouco de gentileza.

A liberdade é azul. Mas a gentileza, essa é cor-de-rosa.

Saturday, March 05, 2005

The Uncanny X-Men


"É ela! É ela! The best x-girlfriend ever!!"
Telefone toca. Alô? "Você foi a melhor coisa que me aconteceu, a única coisa boa daquele seminário que fizemos". Respondo: ah. que exagero.
E-mail chega. Abro. Respondo dizendo que ele deve estar desesperado com a agendinha na mão, para ficar mandando um e-mail por ano há mais de três anos. Ele: "é que vc foi MUITO importante para mim. Provavelmente eu não fui importante para vc". Respondo: ....
Telefone. Namorado de dez anos atrás conta sua vida, conversa sobre as coisas, o mundo, pergunta se sei um alongamento ou qualquercoisa que ajude a melhorar a dor lancinante nos pés. Recito receitinha passo-a-passo. Despedida: "até mais, um abraço!"
Campainha. Entra ex-marido trazendo o menino pela mão. Vem furtivo à sala onde estou escrevendo concentradíssima. Chama meu nome, tira meus óculos para ver meu rosto depois de uns dois anos. Pega meus pacotes, leva-me para casa. Entra, conhece os gatos, toma um cálice de vinho, olha fotos, mexe nas coisas no quarto do menino. Despede-se num abraço apertado de um minuto, "que bom ver você assim, tão linda, tão bem".
Ok, you, Master of the Universe. Qual é a pegadinha? Se sou tão querida, inteligente, descolada, prestativa, parceira, linda, engraçada, doce e inesquecível, POR QUE DIABOS ELES PREFEREM A CONDIÇÃO DE *EX* À DE *ATUAL*?

Wednesday, March 02, 2005

Sonhos do Quarto Escuro - Parte I

Sonho do Dia Um: num futuro inóspito muito muito adiante desse nosso tempo, as pessoas realizavam êxodo citadino (da cidade para o campo) em busca de comida. A terra se esgotara. A água se acabara. Vivia-se e trabalhava-se para comer. Todos eram lavradores, eu inclusive, com instrumentos de trabalho nas mãos e rostos muito queimados de sol. Estava embarcada no trem que na vida real uso para ir trabalhar, no sonho ele estava em ruínas. Os trilhos tinham sido interrompidos num ponto e era preciso desembarcar e caminhar, ou pegar ônibus lotados como vagões para Auschwitz, sem vidros e sem faróis, até a estação operante mais próxima. Saindo dos trens, as pessoas se agrediam em lutas de morte, para eliminar a competição pelo alimento ou mesmo para comer a carne do vencido. No meio dessa batalha campal com tintas de MST, encontrei, naquele mar de pessoas muito bronzeadas pela vida no campo, um ruivo (!!!) muito branco, algo composto, que me pegou pela mão e guiou com segurança pela zona de guerra. Embarcamos juntos no trem em ruínas, na estação operante mais próxima. Ele era calado e seus olhos cor de mel flamejavam. Apaixonei-me perdidamente, queria seus beijos. Ele limitava-se a me fitar, enigmaticamente. Acho que era o pequeno Calvin da Malgardée em versão humana.

Whatever, no dia seguinte, na vida real, uma carga inflamável foi derramada no trevo de saída de uma cidade da região metropolitana e o trem que uso para ir ao trabalho teve a operação interrompida por umas duas horas. Seria tão mais útil sonhar com os números da mega sena....

(não perca a Parte II - participação especial de Cordelie Kael)

Sonhos do Quarto Escuro - Prólogo

Recebendo visita paterna na praia, mudei para o quarto do filho, com orientação oposta e por isso, muito mais escuro. Entrava tateando no negrume quase palpável do local onde o filho há horas dormia, avançando a passos de formiga para a cama que estaria arrumada em um gavetão de madeira, a meio centímetro do ossão da canela. Devagar, ajoelhava no colchão e deitava, sem fazer barulho.

Começava o show de Morpheus.

Tuesday, March 01, 2005

Troféu Abacaxi

Pert, oval-shaped breasts are for Lorenzoni like pineapples. "A woman with pineapple breasts is intelligent, often has a career but is still romantic. They are also faithful. Whoever wins their heart will not lose it quickly."

Veio daqui, link citado pelo querido Tio Fudilso.

The Decay and Fall of The Doorman's Queen

Ser Rainha dos Porteiros, vá lá. Porteiros abrem muitas portas. Porteiros zelam pela segurança e orientação de pessoas.

A Monarca que vos escreve se encontra em franca decadência. Com o advento da estação da pouca roupa, a Corte aumentou em proporções exponenciais mediante massivo ingresso de criaturas de calão baixo e modos gatunos.

Em recente abordagem, Sua Majestade aqui, disfarçada em óculos grossos de grau, cafetã (cáftan... whatever), chinelos de dedo e cabelos (sujos da praia) presos, recebeu a seguinte, hã, "abordagem":

Cortesão - Mas você tem um jeito muito diferente! Você é uma pessoa muito interessante!
Rainha - ....
Cortesão - Você é punk?
Rainha (intrigada) - O quê?
Cortesão - Punk! Punk! Você é punk? É porque estas suas roupas, tão diferentes (?) tão assim, agressivas... (?????)
Rainha (pensando em fugir correndo) - Nããão. Não sou punk não. Sou uma pessoa muito sossegada.
Cortesão - Mas você 'tá usando essas roupas aí, são roupas de punk!
Rainha (suspiro) - Não, amigo. Isso aqui é uma roupa assim.... meio indiana, tipo bata, entende?
Cortesão (aliviado) - Aaaaaah 'tá! Mas então, não quer conhecer meu trailer? Olha só, tem tevê 20 polegadas, DVD, CD player e som estéreo! Tudo em volta da minha cama! Porque a gente tem que se cercar das coisas que gosta, né? Então?
Rainha (faz que não ouviu) - ...
Cortesão - Mas então?
Rainha - Então o quê?
Cortesão - Você vem?
Rainha - Como assim, "vem"? "Vem" aonde?
Cortesão (sorrindo) - Vem aqui, no meu trailer, depois.

Com o detalhe sórdido que meu filho estava pulando em volta todo o tempo, tentando conversar junto.

É brincadeira. Devo ter cara de Madre Tereza de Calcultá.


"Quem dá aos pobres, empresta a deus, minha filha!"