Friday, December 31, 2004

Pomo D'Oro

Tomato

(Depoimento sobre o pomo d'oro, por Dottore Nino, mi papá. Parla, papá!)

Nino -->
O tomate? Hmmm. O tomate é nativo da América e contribuiu decisivamente para que tivéssemos a pizza e o molho de macarrão. Sem o tomate, essas comidas não teriam apetite, paladar. Não seriam NADA. Além disso, a massa de tomate integra a receita do Bloody Mary. O tomate contém vitamina C e licopeno, e só faz bem. É uma fruta tão bonita e tão apetitosa que, nos Estados Unidos, serve como comparativo de beleza feminina.

Belly --> E por que "Pomo D'Oro"?

Nino --> O tomate é o pomo d'oro não por causa da cor, mas pelo seu valor. Conta a mitologia grega que os Argonautas dirigiram-se ao Jardim das Hespérides (ou Hésperides?) apenas para colher as maçãs de ouro que lá frutificavam. Chegando o tomate à Europa e à Itália, o povo italiano conheceu-o, provou-o e concluiu que, se o pomo de ouro existia, só poderia ser aquilo.


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O tomate é fruta vermelha e sumarenta (e versatilíssima) que ocupa dez entre dez corações Oriundi pelo mundo afora. Em cada cuore frutifica um tomateiro, não tenha dúvidas.

Os 'taliani perdidos pelo mundo em decorrência das sucessivas diásporas desencadeadas por fome, guerra e totalitarismo levaram impresso no DNA o inabalável amor pelo tomate.

O tomate surgiu na América. Foi encontrado nos países da costa do Oceano Pacífico, do Peru ao México. O nome "tomate" deriva do asteca tomatl.

Navegadores espanhóis levaram o tomate para a Europa. Ninguém gostou num primeiro momento. No século XVII, um cozinheiro italiano da cidade de Nápoles misturou rodelas de tomate com salada de alface, dentes de alho e azeite, criando a salada-de-tomate-e-alface sem a qual um Oriundi não vive.

Já não mais frutti non grati, iniciaram-se as experiências. Fritar tomate (verde ou maduro) no óleo, na manteiga, com alho, com manjericão, com orégano. Misturar isso com a pasta.
Diz a lenda que a pizza surgiu de um acidente: também por volta do século XVII, uma rajada de vento teria feito com que os tomates e temperos que estavam guardados em prateleiras abertas de uma cozinha napolitana caíssem em cima do pão que tinha sido assado. Sem ter o que comer, senão o pão involutariamente temperado, a famiglia sentou-se à mesa. O ressabio inicial foi substituído por entusiasmo quando constataram quão gostoso era o pão com os temperos. Daí para a pizza com bastante azeite de oliva, cebolas, tomates, pimentões, aliches, manjericão, orégano e muuuito queijo foi um passo.

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Mas qual a relação entre o pomo d'oro e o Ano Novo?

Estou lendo 'A Vendeta', um romance policial bem gostosinho, da Oriundi Lisa Scottoline. O título já diz: o plot tem muita oriundice. Entre elas, uma sub-história, algo patética, algo feita para proporcionar o choro fácil que vemos nas produções hollywoodianas - e que eu gostei!
Um dos personagens, quando jovem, apaixonou-se por uma moça que supostamente seria inatingível. Para demonstrar seu amor, colhia o mais belo tomate, enrolava em seu lenço branco, muito limpo e engomado, encilhava o cavalo, percorria diversos quilômetros e deixava o presente na soleira da porta dela. Dia após dia, depois de encerrar a exaustiva lida campeira, lá ia ele entregar o viçoso tomate, muito vermelho, delicioso e delicado, como seu próprio coração. Houve o dia em que ele também ganhou um presente, deixado na soleira de sua porta, enrolado em um lenço muito alvo e cheirando a sabão (Oriundis adoram coisas muito limpas e esfregadas). Era o mais perfeito tomate jamais visto. Ele tomou a preciosidade das mãos, coração agitado, e comeu, sentindo pela primeira vez que o Mundo era um lugar bom.

Não, eu não mandei tomates para ninguém. Nem vou finalizar com alguma coisa piegas, do tipo morda-um-tomate-e-estarei-te-beijando,-oh!

Há tanta poesia nas coisas simples. Um tomate pode ser uma declaração de amor. Um tomate pode salvar a sua vida.

Claro que é muito agradável um armário recheado. Porém continuo pensando que o que melhor cobre o corpo são as mãos de quem se ama.

E o amor, folks, não precisa de um Versace. Mas talvez precise de um tomate.

Para todos vocês, Leitores Amigos desse blog, o sincero e forte desejo de um 2005 verdadeiro, feliz, autêntico, um 2005 para nos sentirmos bem na própria pele.

Auguri!!!
Mais informações sobre 'A Vendeta' aqui. Escreva 'vendeta' como palavra de busca - a página da resenha do livro é unlinkable.

Wednesday, December 29, 2004

Splish Splash

--> Virundum dujú (copyright rmx): "ela cola no meu peito e eu colo juntinho a ela", para o trecho da música de Ben Jor sampleada em Carolina Carol Bela, do DJ Marky, em que eles cantam "ela mora no meu peito e eu moro juntinho a ela". Ok. Boa desculpa para colar no peito Pelúcio. Very subliminal.

--> Alguém consegue me explicar por que, na página de logon do i*Eu tem um urso azul de expressão surpresa oferecendo o derrière?
urso
"Oh! Mon popô!"
Eu adoraria saber.


--> Madonna reescreve o Evangelho mas não abre mão do LP&G - é a estrela da Versace.
Madonna - Versace
Tá bôua, fôfia? I'm just going with the flow."


--> Estive no cabeleireiro que me corta os cabelos há 25 anos - Jubileu de Prata, hem, Sêo Tony! - e que, portanto, já fez todas as porcarias possíveis, prováveis e improváveis, na minha cabeça. Agora, não erra NUN-CA. Algo que os employers worldwide deveriam dar-se conta: após errar de todas as maneiras possíveis, a criatura provavelmente não errará mais. Apostar, you CEO reader, pode ser (MUITO) mais econômico a médio e longo prazo do que chutar bundas - e nós estamos falando *apenas* de re$ultado. Esse foi o Memento Metropolis do fim de ano bellyano. Favor relevar, Leitor Amigo.
Falando nisso, mira acá, página pessoal que mistura Brasília e Metropolis. Wow.


--> *A* Enxaqueca do Ano: 29.12.2004, das 0h às 6h. Dessa vez não baixei hospital, mas foi por muuuuito pouco. Regan, *morra* de inveja!
Exorcist - Linda Blair
"It hurts like HELL!"


--> Hoje é Festa Móvel lá no meu apê. Pode aparecer. Vai ter birita até amanhecer.

Tuesday, December 28, 2004

Monstro de Olhos Verdes

Green-eyed
"I'm The Green-Eyed one and I want it all."

Nunca importa o quanto me afaste, você sempre volta. Incomoda. Perturba. Não quero você aqui, não vou lhe alimentar. Mas você não se deixa ignorar. Conhece de há muito todas as pequenas atrocidades, as baixezas, as vilezas da alma humana. Sempre encontra uma brecha e por ela se esgueira, como fumaça fétida. Passa sua monstruosa compleição por frestas infinitesimais, à moda das baratas. Como elas, para você tudo é alimento, tanto o novo como o pútrido. Remói meus pecadilhos e pequenas atrocidades, eu sinto seus dentes afiados triturando minhas entranhas sabendo que toda a dor me é devida, pois nada disso seria se não permitisse essas fraquezas, se as erradicasse permanentemente.

Tão malditamente humana, tenho raiva de quem me machucou. Irrita-me o êxito daqueles que me prejudicaram. Tanta onipotência, como se me coubesse julgar a quem cabem os ônus e os bônus. Sei que não. Sei, mas não sinto. Não há espaço, o que sente em mim está obliterado pela raiva cega.

E você se banqueteia, enquanto tateio em busca da saída. Do escape. Do ralo por onde escorrerá toda essa imundície.

Green-eyed monster
"Gotcha. You can't run. You can't hide."

Monday, December 27, 2004

I'M SO HAPPY!

Sesame Street

Pelúcio voltou!

Pelúcio já não comentava mais no blógue.
Oh, Pelúcio, não se vá! Fica, vai...

O dia depois de amanhã

Tsunami - Reuters
- Reuters

Um terremoto submarino, no Oceano Índico de magnitude 8.9 na Escala Richter, gerou uma tsunami que atingiu as Maldivas, toda a costa oeste do Sudeste Asiático e parte da costa leste da Índia e do Sri Lanka.

A ilustração mostra como se dá a formação do tsunami.

Até o momento, o número de mortos na Ásia chega a 21 mil, sendo 10 mil só no Sri Lanka.

Uma diplomata brasileira e seu filho teriam morrido na tragédia. O Itamaraty disponibiliza telefones para consulta e não confirmou nenhuma baixa.

Enquanto isso, a previsão para o Verão 2005 no sul do Brasil é: chuva intensa em janeiro e geada em março.

Yep. The day after tomorrow is coming.

Reportagem completa na Reuters.

--> Pauta proposta por Pelúcio, Editor-Geral.

Saturday, December 25, 2004

Delayed, the new Maritel doll

The Delayed Doll
No matter how much I try, I *never* get on time.

Maritel proudly introduce the Delayed Doll! Lovely shaped in soft foam, the Delayed Doll will never disappoint you! It *always* gets late! It *always* likes things when not trendy anymore!

Order *now* your Delayed Doll, available only in brown hair, large hips and fully-belly model.

Isso é só para dizer que após finalmente fazer o K-Lite funcionar, estou em transe com Tiësto. Yeeees, e danço sacudindo os bracinhos!

Friday, December 24, 2004

Io sono siciliana

Sicily

(Post retirado a pedido da famigilia. Scusa.)

--> Sicily, de Dolce & Gabbana, teve sucesso em sua proposta: tem o cheirinho da minha avó Tina - que era uma mulher miúda, carnuda e extremamente sedutora, que nunca aprendeu a falar português direito, exprimindo-se numa doce mistura de dialeto siciliano com castelhano. Ela realmente gostava das festas de fim de ano, especialmente do ato de alimentar todos os seus descendentes até o quase-colapso.

Vô, vó: eu amo vocês. Um feliz Natal e até a vista.

Thursday, December 23, 2004

Das coisas que fazemos com as mãos

borboleta

Foi com as mãos que te peguei no colo, assustado da chegada. Com as mãos enchia a banheira plástica de água para o momento mais feliz do teu dia. As mesmas mãos livraram, tanto quanto possível, o desconforto do corpinho novo recém começando a funcionar. Mãos que seguraram as tuas quando insistias em caminhar pela casa inteira por três horas ininterruptas - porque engatinhar era coisa do passado.

Com as mãos, e mais, com os braços, te segurei inteiro quando acordavas da anestesia, com apenas um ano de idade. Essas mãos que prepararam milhares de mamadeiras e ainda todas as comidas que te fizeram declarar "mãe, tu não cozinha muito bem". As mãos que seguraram as tuas na cadeira da dentista. Mãos que muitas vezes cobriram meu próprio rosto quando, esgotada, tinha vontade de abandonar tudo e sair pelo mundo sem pensar em filho, trabalho, dinheiro. Palmas que ainda hoje espalmam com a tua, no único momento que ainda permites: a hora de atravessar a rua.

As tuas mãos, cada vez maiores e mais fortes. Tudo em ti, crescendo e fortalecendo. Logo vais dispensar as minhas e experimentar tudo apenas com as tuas próprias mãos. Erros serão inevitáveis, saiba de antemão - e eles também ensinam, também nos pegam pelas mãos, para mostrar o que NÃO devemos fazer.

E quando estiveres cansado, esvaziado, e as tuas mãos não te parecerem suficientes para conter a frustração, essas mãos meio velhas e já marcadas estarão aqui esperando. Não para fazer coisas para ti, ou por ti. Mas para espalmar com as tuas enquanto tu traças teu próprio destino.

Filho, às vezes a vida é como um Paintbrush. Nada sai retinho. Por isso que é tão bom.

--> Para Antonio, com amor, no Natal de 2004

Wednesday, December 22, 2004

Carvão

Come home with me, baby.

Tuesday, December 21, 2004

Salma pergunta: que corretivo ela usa?!?

Salma Hayek

Saiu reportagem em revista feminina - na matéria "Balcão de Beleza" - de dezembro, mostrando sombras corretivas faciais. A verde neutraliza a vermelhidão de espinhas, veias e irritações. A amarela apaga as olheiras. A bege-rosada uniformiza o tom da pele onde for desigual (para quem não ama suas sardas, por exemplo). Curiosa, comprei-as, a verde e a amarela, numa loja de produtos para cabelereiros que vende Farmaervas - embora não tenha qualquer indicação no site, há ao menos telefones e endereços para informar o ponto de vendas mais próximo.

Cada potinho custou a bagatela de onze reais e cinqüenta centavos. Testado e aprovado! A consistência cremosa tem uma leveza que se poderia esperar de um Lancôme. Apliquei a amarela sob os olhos e as bochas roxas sumiram - nenhum outro corretivo, a não ser o M.A.C. da Dona Malgardée tinha conseguido fazer isso antes. Iúpis múltiplos!

Para arrematar, pinceladas nada sutis (mão acostumada com make clarinho) de pó facial bronze fizeram de mim a Pocahontas. Nem tudo é perfeito.

Salma Hayek, aquarelada, usando My Lip Miracle cor Rosa Canela, do Avon. Também aprovado!
E ninguém está me pagando nada por todo esse merchandisin'. Oh.

Monday, December 20, 2004

The Utimate Pin-Up

pinup
Belly, a pinupenta, usando e abusando do delicioso presente.

Mr. Postman deixou na minha casinha um Note Book (veja bem, não é a mesma coisa que notebook) todinho recheado com figurinhas de pin-ups. A coisa mais querida, meiga e fofa ever.
E o melhor foi o cartão que ela mandou, dizendo, em síntese - ou na síntese que *eu* quis fazer - que me vê como uma pin-up.

Oooooo, thanks, darling! It's all in the eye of the beholder, sweetie.

Resolução de Ano Novo

If I burn my wings flying too close to the sun
If the moment of glory is over before it’s begun
If The Dream is won, though everything is lost

I will pay the price but will not count the cost


--> Bravado, Rush

(all'alba vincerò. vincerò. vinceeeeeeeeee-e-erò)

Friday, December 17, 2004

Romancesca - a garota Casanova

Dizia-lhe ele que o diferencial entre o humano e o animal era a capacidade de elaboração, a sublimação do instinto, o desenvolvimento do raciocínio, a aquisição e racionalização do conhecimento. Por isso, quando os instintos dela despertaram do torpor, furiosamente sacudidos por marés hormonais, desencadeou-se todo um barroco processo de elaboração.

Não sabia por que ficava acordada olhando o céu nas noites de verão ou por que fazia questão de que as janelas as escâncaras deixassem que a brisa invadisse o quarto. Era uma tempestade dos sentidos, todos freneticamente aguçados ao mesmo tempo, gestando juntos uma fome pantagruélica nunca vista até então. O desconhecido e o medo do desconhecido. O desejo e o receio, retroalimentando-se num continuum insuportável.

Restara a racionalização. Ela lhe protegeu e guardou e acalentou inúmeros planos e sonhos e projetos, igualmente assustadores. Estava difícil decidir o que era pior. Interrompera-lhe o caminho aquele mar de angústia e, quando acreditava que ia poder atravessá-lo, que mediante mais e mais racionalização as águas permaneceriam abertas, descobriu que mesmo o muito pensar e o pouco agir não as segurava e que ela seria um Moisés mal-sucedido.

Concluiu que deveria se render. A condição humana a exasperava. Os impulsos a consumiam. Não havia momento de paz. Há muito não conciliava o sono. Realizou com cautela e cientificismo as primeiras experiências, colhendo dados e comparando amostras. Estabelecida a margem de segurança, lançou-se integralmente à aventura de redução à condição animal. Atendia de bom grado a tudo que os instintos lhe demandassem, tendo resguardado-se antecipadamente do risco de atentados auto-infligidos contra a vida, a saúde e ao conceito social de honra feminina. Procurou a máxima redução. Buscou incessantemente o mais baixo aviltamento, acreditando que lhe traria libertação.

Nunca soube se o insucesso se deveu à inafastabilidade da condição humana ou ao fato de ter-se contaminado irremediavelmente com a idéia de romance. Abandonava leitos emaranhados coberta de suor e fluidos, com o mesmo semblante inocente da menina que fora, sentindo-se irremediavelmente aprisionada enquanto lembrava canções que contavam sobre coisas que tanto queria, agora muito mais do que a mera libertação da carne. Cantava as melodias sentindo enorme desamparo enquanto caminhava até o ponto de ônibus ou táxi - porque nunca nenhum amante a levava em casa, por mais que insistisse. A solidão era sua prerrogativa, seu refúgio e seu flagelo.

Havia atingido seu objetivo.
Disputavam-lhe as atenções os machos de todas as cepas. Muito mais do que seu corpo queriam seu afeto, para exibi-lo como troféu perante a audiência. Ela observava e sorria um sorriso triste.
No âmago mais escuro e fundo do seu ser, sussurrava a letra de Downstream e descobria que não precisaria de inimigos.

Tuesday, December 14, 2004

*Mim apreçiar jentilesa, bwana*

Houve um tempo em que acreditei que o amor seria capaz de salvar o mundo e redimir nossos crassos erros. Tocava os pequenos pés do meu bebê e, observando seu corpinho radioso crescer e com ele o sorriso desdentado passando a dentuço passando a metálico, vinha-me de sopetão uma nesga até então desconhecida de esperança. All you need is love, love is all you need.

Mas uma andorinha só não faz verão e os sinais de fumaça que me chegam trazem travo amargo de desprezo raiva ódio indiferença dor desencanto inveja ressentimento mágoa, chagas profundas e abertas. Não há mais doçura no olhar. Desaprenderam-se as locuções "por favor" e "muito obrigado". As janelas da alma pedem vidraceiro urgente, para consertar os vidros quebrados, para trazer de volta o antigo brilho. Sorrisos vagos e rasos são ostentados como máscaras, vestidos das oito-às-cinco por gente que se aborrece tremendamente com o que faz, que odeia a vida que tem, que lá no âmago geme alto entredentes. Palavras bonitas e polidas são diariamente aviltadas por quem as pronuncia em vão, esvaziadas de toda sua infinidade de significados, como bolhas de sabão. O hype da aparência-acima-de-tudo, do the-winner-takes-it-all engendrou uma seqüência de gerações que prescinde ser, e até mesmo ter - a palavra de ordem é: parecer. Não importa que sua conquista tenha lhe levado à lona, o que vale é o juiz erguendo seu punho fechado e sagrando-o vencedor.

É a Era das Vitórias de Pirro.

Os avanços científico-tecnológicos permitem uma miríade de melhorias. Corpo saudável. Apreensão do conhecimento, dos sofistas a Wittgenstein, passando por Camille Paglia, Millôr, Sun Tzu e Lair Ribeiro. Informação que viaja na velocidade da luz. Combate a doenças. Desenvolvimento agrotécnico acelerado. Altíssimo grau de aquisição de cultura pop. Pele lisa. Mãos macias. Que terminam por se associar com sorrisos vagos e rasos, ostentados como máscaras por lábios incapazes de proferir "por favor" e "muito obrigado", encimados por olhos opacos que enxergam mas não vêem.

Bem-vindo à obliteração. Escolha seu veículo e boa viagem. Independe se você quer se alienar mediante profundíssimo estudo filosófico ou preocupação única com as novas cores de gloss para o verão. O fato é que olhamos só e somente só para nosso umbigo. Perdeu-se praticamente toda a capacidade de identificação com o outro e, com ela, vão-se perdendo a empatia, a simpatia, o afeto, a camaradagem, a boa-vontade.

Não se engane, Leitor Amigo. Sou tão terrivelmente alienada quanto qualquer um. Mas *mim ainda apreçiar jentilesa, bwana*. Hate mails, hate comments, hate talk, hate declarations, demonstrações gratuitas e infundadas de super-super-superioridade intelectual, moral e ética e estética e telemática: não, obrigada, ENSO. Já dizia algum sábio oriental que oferecemos o melhor de nós. Se o *melhor* for apenas um monte de bile, prefiro passar sem.

Preste atenção, porém. Não quero sua gentil hipocrisia. É um pouco mais do que isso.

Monday, December 13, 2004

Manhattan, Brasil

Uncle Filthy McNasty cantou em boa prosa o suor e talento de residir em Manhattan. Leitura deliciosa e obrigatória.

Digo-lhe, Leitor Amigo: residir no Centro de certa cidade no sul do país pode parecer-se muito com manhattanear. Não possuo mais carro (foi furtado, schuif, e isso será tratado oportunamente), vou a pé para tudo. Tem livrarias boudoir-style no caminho entre o "super"mercado que vendem coisas imperdíveis e não encontráveis em nenhum outro lugar - à exceção de Pesadelos e Paisagens Noturnas, de Stephen King, totalmente desaparecido e escafedido do mercado editorial nacional. Contamos com sapatarias que efetivamente consertam seus sapatos e bolsas, ao lado da livraria milagrosa. Os mantimentos e bens não-duráveis são adquiridos e levados para casa aos pouquinhos, porque não há carro e não dá para entulhar um apartamentinho de sessenta e oito metrinhos quadrados de área com comidas, móveis, roupas. Na perpendicular do "super"mercado há uma quitanda que vende de carambola a caju, passando pela romã e fruta-do-conde - mas infelizmente não há pequi. Ainda, porque já pedi para o quitandeiro. Lavanderias de todos os tipos grassam para todos os lados: cada rua tem a sua. Há bareszinhos boêmios tradicionalíssimos, onde voltimêia dá uma enorme engresilha entre bebuns. Os cinemas ditos alternativos da cidade encontram-se, à exceção de um, no Centro - e tem sempre algum estabelecimento vendendo um expresso bem-tirado logo ali ao lado da sala de projeção. Há as figuras folclóricas que integram o lúmpen urbano, que eu tanto aprecio e admiro, de certa forma. Tem transporte para todo lado. Tem o metrô de superfície, que tomo todo dia para ir trabalhar. E tem gente extravagante, como eu, que faz happy hour no porto da cidade, com garrafa de cerveja (verão) ou vinho (inverno) e copos de cristal, previamente acondicionados em qualquer sacola de qualquer loja.

Fica aí a sugestão: faça turismo na sua cidade. Afinal, a vida é uma deliciosa viagem.

Sunday, December 12, 2004

A Rainha dos Porteiros

Da mesma forma que Sula Miranda é a Rainha dos Camioneiros (ou Caminhoneiros) e que Rita Cadillac terminou por sagrar-se Rainha dos Presidiários, esta que lhe escreve, Leitor Amigo, ostenta o título não-declarado de Rainha dos Porteiros.

É simples: onde quer que haja uma portaria, estará um ser do sexo masculino que, independentemente de opção sexual, reconhecer-se-á como meu súdito e prestará as homenagens que entender cabíveis - vão desde olhos esbugalhados e queixos caídos até persecuções telefônicas infindáveis. Há aqueles que pedem que dê tchauzinho para a câmera de vídeo do elevador. Houve um caso de um rapaz que me mimoseou com um frasco de talco Pom-Pom (!!). Tem também a classe dos Fiéis Seguidores - simplesmente saem andando atrás, sem dizer palavra. Os mais discretos apenas contemplam com ar sonhador e murmuram "linda", baixo o suficiente para ninguém perceber, alto o bastante para que eu possa ouvir.

E por quê tudo isso? A Revista Época explica: povos subdesenvolvidos gostam de mulheres gordas. Evidentemente que jamais causaria a mesma comoção nos salões do Country Club, aliás, nem mesmo nos shoppings centers ou qualquer outro antro de gente economicamente mais beneficiada. O título diz em letras laranja tamanho grande: rainha dos PORTEIROS.

Ante todo o exposto, vaticino: se você cair por Belly, benzinho, it's 'cause you were born to be a doorman.

OK, cada uma tem a Corte que merece. Não tem nenhum Albucacys mas, diversamente da ex-Sra. Eike Batista, ninguém me apaga o fogo - dispenso, 'brigada - nem me causa problemas. Pelo contrário, eles me abrem muitas portas.

Não deixe de ler a reportagem linkada. É curtinha, divertida, e mostra que os transtornos com o embelezamento são tão antigos quanto a profissão mais antiga. Por isso, Leitora Amiga, vamos é procurar extrair o máximo de prazer e o mínimo de aborrecimento dessas sessões de quase-tortura. Na pior das hipóteses, os rapazes da portaria agradecem.

Saturday, December 11, 2004

Aula de canto

Sometimes I feel like a motherless child
Sometimes I feel like a motherless child
Sometimes I feel like a motherless child
A long *ways* from hooo-o-me
A long *ways* from home

Sometimes I feel I am almost gone

Nos curtos dois meses em que tomei aulas de canto, essa era a música de exercício. Pedi ao professor para cantar músicas da boa gente preta. Queria ser preta pretinha e topava até o que eles chamam de cabelo ruim, se ao menos pudesse ter aquela voz. Nada feito. Descobri ser uma soprano sopraníssimo, daquelas que quebra vidraças (ó dor, queria era ser a Janis Joplin) com um timbre cristalino como as águas do riacho dos Elfos de Tolkien.

Após dois meses de contentamento, descobrindo que os trinados eram muito mais agudos do que gostaria - mas tudo bem, pois nada é perfeito - bateu um banzo. Porque o diretor da escola de canto encantou-se por mim e não sei lidar com a atenção alheia - provavelmente no começo acabei nua nos braços de alguém muito mais por não saber lidar com a situação, algo do tipo "ok, aqui está o que você queria, posso ir embora agora? obrigada", a própria Geni. E porque passava uma boa meia hora ou mais repetindo que me sentia uma órfã longe de casa. Nenhuma outra declaração seria mais verdadeira.

Idéia para a próxima tentativa: usar como música de exercício 'Son of a Preacher Man' ou 'When the Saints Go Marchin' In'.


Friday, December 10, 2004

Ode à Peçonha

É assim mesmo que as coisas são. Você, mulherzinha vil e traiçoeira, que sabe estar no ocaso da vida e que esse final não será apoteótico, será patético. Que observa, entre cobiçosa e odienta, os meus cabelos, a minha pele, as minhas escolhas de roupas e sapatos, o meu modo de ser e falar, a qualidade do meu trabalho, o perfume que eu uso, a impressão que eu causo. Você, que sabe que o tempo passou, que ele se foi e que suas escolhas não foram felizes, que feliz você não é e que seria mil vezes preferível não ser essa pobre criatura equivocada. Você, que erra ao falar, que erra ao agir, que erra ao omitir-se, que erra ao calar, que erra ao escolher e que erra ao asssentir. Você, que em mim vê os defeitos que são seus, sequer me permitindo o privilégio de honrar aqueles que são meus. Você, que de todas as interpretações faz de mim sempre a mais equivocada, a mais odiosa, a mais venenosa e que sorri torto seu sorriso feio de dentes amarelos maltratados, mal-cuidados, mal-amados, como tudo em você. Você, que de tudo o que tem nada lhe basta, e não houve filho, marido, irmã, neto, sobrinho que lhe suprisse e lhe sublimasse este sentimento de aviltamento, de mascaramento, de rebaixamento. Você, que é baixa, é pequena, é pouca e ousa rosnar para mim suas presas pútridas. Você. Que eu mandaria para o inferno, se ele já não estivesse aí dentro instalado.

--> para a minha detestável colega de trabalho. para todas as mulheres que poderiam ter sido sublimes e optaram pela obliterante insuficiência da pequenez. para a Mesquinha que habita em cada uma de nós.

The full monty

Sessão da Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo. Votação do relatório da CPI (sempre elas) do Seguro de Vida, que investigava o superfaturamento do seguro dos legisladores*. Listado entre os acusados, Gilson Gomes, deputado integrante da CPI, não teve dúvidas: tirou a roupa, bradando que "não havia clima para votar". (clima, hmmmmmmm!) A sessão foi interrompida. Claro.

É o legítimo habeas corpus.

*: (seguro de vida de deputado estadual? pago pelo fisco estadual? puxa, os beneficiários deveriam ser os capixabas - e em caso de sinistro, seriam duplamente beneficiados.)

Tuesday, December 07, 2004

Superstylin'!

Groove Armada

O tempo passa e as paixões mudam, pero no mucho. Quando menininha o hype eram as lojas de brinquedo. Um pouco mais velha, passei a me interessar por coisas de banho, como sabonete e shampoo. Fiquei moça e os gostos se direcionaram para roupas, batom, perfumes e sapatos - nessa ordem.

E em todo esse tempo, livrarias sempre tiveram atração magnética desenfreada sobre minha pessoa. Vamos as compras? Sim, vamos. Você compra, eu fico na livraria lendo.

Well, dudes. Sign of the times! Agora além dos livros*, a seção de CDs da Livraria Cultura vem sendo a responsável número UM pelo meu guilty pleasure.

A aquisição recente (sábado, 04.12.2004) mais apaixonante foi Groove Armada: The Best Of. Honrosa exceção a esses nojentos títulos "the best of" (junto com The Best Of Eric Clapton), constitui uma eficaz coletânea de sucessos do GA. OK, há uma sensível diferença entre o *melhor* e o *mais comercial/mais sucesso*. Mas para o meu gosto, mais especificamente o meu gosto para GA, it feels the same.

Esse é o momento Superstylin' da mão-de-vaca aqui, que NÃO foi à Curitiba, nem à Buenos Aires (ó dor) assistir os meninos de perto. Confesso porém que é uma delícia ficar na companhia deles lá em casa mesmo.

Quer mais Groove Armada? Vem aqui. Dá até para baixar musiquinha.

*: se você encontrar por aí Pesadelos e Paisagens Noturnas, contos (melhor dizendo, short stories) de Stephen King em DOIS volumes, não hesite. Compre e revenda para mim. Não perca essa chance de me explorar!!! Foi lançado em português pela Editora Objetiva, mas está esgotado. Está valendo (Ô! e como!) a edição em inglês também - o título é Night Shifts.

Monday, December 06, 2004

Vernis laquer à ongles

Jessé olhava aquelas unhas que cresciam sem cessar. Abriam-se em leque, espalhando-se como se desejassem abarcar tudo à volta. Dora deixava as unhas encompridarem e alongarem e espalharem, sem nenhum cuidado, nenhuma vaidade. Jessé queria que Dora tivesse mais do que aquela vaga doçura e o cheiro de baunilha almiscarada, queria a sua Dora Rainha, com os cabelos penteados, as sobrancelhas pinçadas, boquita pintada e a depilação em dia e as unhas ah! as unhas lixadas e esmaltadas de carmesim escuro. Dora mirava de esguelha, cheia de receio, para estéticas e institutos de beleza. Irritavam-lhe as conversas, os assuntos. Assustavam-lhe os pés de galinha denunciando noites e mais noites aflitas passadas por aquelas mulheres que fizeram da beleza profissão, o cheiro de cigarro das mãos manchadas de nicotina das atendentes, as vozes roucas de quem muito fuma e muito chora no escuro solitário das madrugadas, os cabelos das coiffeuses espigados e meio mortos pelo excesso de tinturas e escassez de carinhos. Aborrecia-se com a necessidade de esperar longamente pelo embelezamento das unhas e depois todos os cuidados com o que quer que fosse fazer com as mãos, para não estragar o esmalte fresco, e depois de seco, para não lascá-lo. Então evitava aquele mundo timburtiano de aparências equivocadas, onde quanto mais lindas tentavam fazer-se as moças, mais e mais se embruxavam.

Veio o dia em que os pedidos de Jessé não eram mais apelos mudos de olhos brilhantes sonhando pele lisa e unhas escarlates. Eram palavras que pediam em voz macia, com a entonação certa, do único jeito que Dora poderia atender sem se magoar. Ele queria unhas cobertas com esmalte, poderia ser qualquer cor! qualquer uma, Dora! queria ver lindos dedos de cor cremosa de Dora terminando em pontas simétricas, coloridas, ajeitadas, deslizando por tudo no seu corpo cheio de pêlos e segredos.

Por dois dias Dora procurou manicures antes do horário de trabalho, como quem não levava muito a sério, como quem pensasse ah sim, se der tempo, vou fazer isso. Após várias recusas, deu-se por vencida e marcou hora, o primeiro horário da manhã. No dia, levantou-se correndo e saiu apressada, decidindo voltar em casa para tomar café e vestir-se para o trabalho. Procurou conversar com a manicure antes que ela lhe propusesse assuntos, perguntando coisas da vida da moça como se fosse uma repórter investigativa ou mesmo uma biógrafa. A vida da manicure era interessante e isso tornou menos enfadonha a sessão de embelezamento. Aguardou o tempo de praxe para secagem do esmalte, sentindo leve irritação e certo contentamento.

Voltando em casa, despertou Jessé. Puxou-o para a frente do espelho de corpo inteiro enquanto ele piscava, estremunhando. Colou-se ao corpo quente que cheirava à cama, enlaçando-o pelas costas e deslizando mãos ornamentadas de unhas carmim-escuro pelos bíceps delineados dos braços fortes. Alisou os pêlos do peito musculoso, descendo pela pelúcia da barriga definida, encontrando mais além fios mais encorpados guardando pele acetinada. Subiu uma das mãos e tocou os lábios de um Jessé agora totalmente desperto. Ele observava tudo, encantado.

Chegou para trabalhar com quatro horas de atraso, um sorriso de sonho nos lábios e nenhuma justificativa.

Thursday, December 02, 2004

My favorite Cyn

Chupado descaradamente de Cyn City. Amei tanto que não resisti. Vá lá, só tem coisa boa, inclusive link para a descoberta blog do ano, The Black Lodge. (não, não vou linkar aqui, não precisa. tem na Cidade Pecaminosa.)

MAS QUE SAKCHEN
Dona ex-Di Capria tá simultaneamente em comerciais de Nivea Sun, C&A, Vivo e Grendene. Tudo bem que ela é lindérrima, famosérrima, magérrima e blablablablablazérrima, mas eu confesso que não agüento mais vê-la. Pelamor de todos os deuses, duendes, orixás e dervixes, será que só tem essa diaba dessa mulé pra fazer comercial no Brasil inteirinho ?!


No menu de hoje, Uncle Filthy McNasty dá todos os tips para se dar bem em Manhattan. Phantastisch!

(Cynthia, se você não gostou, avisa que eu deleto o post, ok?)

--> e por hoje é só, pessoal, porque Isaura Chama.

Wednesday, December 01, 2004

Aleatórias

Disclaimer: as figurinhas sumiram. Ofereço recompensa. Ajude, há crianças sentindo falta das figurinhas! Obrigada. (51) 9***6479.

--> Tentativa de reconciliação com o sapato de salto de onze centímetros, providencial intermediação da palmilha preventora de metatarsalgia, vulgo meia-palmilha, feita de silicone. Placar: Sapato 1 X 5 Belly.

--> O mês ainda não acabou. Dizem os meninos do estatístico que acaba amanhã. Digo eu que acaba sexta. Qualquer que seja a opção, estarei aqui novamente em pontuais doze horas.

--> *Preciso* comer camarões. Rápido.

--> Saia-lápis + sapato de salto alto = o mundo pode ser seu, todinho seu.

--> Uma das delícias de comer pêssegos é ficar com o cheiro deles nas mãos.

--> Lendo Neuromancer no trem (e na cama. não resisto.) Diz a orelha que Matrix, o longa-metragem que deu origem à série, é plasmada da obra de William Gibson. Discordo: Neuromancer é MUITO melhor. Espie aqui.

--> Depois de tudo aquilo, olhei para meu Chefe e determinei: *não fale mais comigo*. Ele não obedeceu.

--> A gata senil tem higiene precária. Não são só os humanos, portanto.

--> Vocês também estão se sentindo meio anestesiados?

--> Às vezes penso em todo o enorme sucesso que poderia ter feito num lugar como Londres se tivesse me dedicado a chicotear terceiros vestindo somente couro negro e máscara do Darth Vader. Que desperdício.