Friday, February 24, 2006

Se7en

Como não bastasse todos os acontecimentos dos últimos trinta dias, desabando sobre a cabeça como uma jaca estratosférica lançada do último andar do Empire State sobre a cabeça da incauta, os felídeos do sexo masculino resolvem desafiar as suas sete vidas (sim, eles são brasileiros e lascados, no nine lives here) desabando o queridíssimo espelho de cristal que a humana mantém no quarto e partindo o dito na horizontal. Porque a humana se mira naquele vidro desde a mais tenra promessa de existência. Porque as únicas coisas materiais aque a humana se apega são aquelas de caráter eminentemente sentimental - como um espelho de cristal que atravessou gerações e um certo carro 1979 de cor verde-metálica.

Sete anos de azar? MAIS sete anos de azar? Só se for para eles, que têm sete vidas.

--> Talvez os sete anos de azar comecem com a humana correndo eles de casa.
--> Se fosse um humano quebrando meu espelho, não haveria espaço para tanta tolerância. E a lombada do livro diz: Os Bichos Evoluem.

Friday, February 17, 2006

De cive

Também é mártir quem sofre calado, de terno bem-passado, de batom sem borrão, ou mártires serão apenas os devidamente descabelados, suados, abatidos e lacrimejantes? Sofre menos quem mais chora? Ou chora mais quem menos sofre?

Aquela que corre afilta atrás de Pôncio Pilatos jurando inocência, é a vítima, é a mártir ou é a madalena? Seria ela apenas um peão nesse freak chess de casas marcadas, pensando que se correr bastante, se cruzar o tabuleiro rápido o suficiente, adquirirá os meneios da rainha ainda que nunca o seja?

Haverá a jogada em que o potencial da rainha permanece latente e a cena é levada somente pelas outras peças? Haveria alguma possibilidade de apenas evadir-se daquela sangreira inútil pelo simples fato da náusea daquilo tudo?
Onde está o horizonte, que não o vejo?

Não me aponte o pedestal. Não vou subir e revirar os olhinhos com cara piedosa que não possuo.
Escolho o cavalo e, devagar, vou a galope em "l", embora desse tabuleiro tomado de mortos e feridos de F/X. Nessa querela, ninguém aparou tantos golpes quanto eu - e meu batom sequer está borrado.

Monday, February 13, 2006

A room with a view

Bittersweet Home
Vista *siciliana* da sacada do quarto, janeiro 2006.

Friday, February 10, 2006

Viciada em Pinto

Eles não estavam na barra ao lado por uma falha inexplicável de caráter dessa que vos escreve.

Para ser introduzido devagarinho, com calma e deleite, experimente o Pinto! Aqui, aqui e aqui.

Eu confesso: eu amo Pinto. Já passei vários dias (semanas! meses! ow.) sem Pinto e não pretendo repetir tão traumática experiência.

Se você prefere não ter muitas intimidades com Pinto, se Pinto não é bem a sua praia, never mind. Tem Hipopótamo, Telescópio, Mandacaru e outros apetrechos extremamente hábeis, cultos, discretos e prontinhos para satisfazer a sua tara mais imunda e secreta. Seu Leitor Devasso.

Thursday, February 09, 2006

Nurture nutrition

Hoje almocei a melhor comida que já comi em anos. Era a melhor mesa daquele lugar tão aprazível. A conversa perfeita para um momento paradoxalmente trivial e sublime que é a boa refeição. As bebidas estavam adequadas, a ambientação, impecável, um misto de objetos de arte com o típico despojamento larguei-ali-e-ali-ficou.

Hoje fiz almoço. Em aproximadamente vinte minutos.
Porque quase sempre a mão amiga na hora difícil está à disposição na extremidade do seu próprio braço. A questão é: terá você suficiente ternura por si mesmo (e coragem) para usá-la para esse fim?

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TODA COMIDA MERECE UM GRANDE ÓLEO, SÓÓÓ-YA!

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'Cause you know, *esculhambation* is also bliss.

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Off-topic do dia (a melhor parte do post, cabeça-a-cabeça com os intervalos comerciais):


E-NÉDITOS!

Vício e compulsão, como já dizia Meu Pinto Preferido, que agora dá expediente na boca do Hipopótamo.
É impossível ler um só.

(Depois não diga que não avisei.)

--> Descaradamente gafañotado de Ms O'Hara.

Wednesday, February 08, 2006

Azaftassardendoen

Quando a enxaqueca não basta para que Criatura caia em si que é hora de mandar tudo às favas e sair correndo e gritando desvairada na esperança de que alguém a coloque numa camisa-de-força (aquele design absurdo, uma coisa Gloria Coelho, a desconstrução do sapato enquanto roupa com amarração pra tudo que é lado em tramas naturais, e o melhor, a desculpa perfeita para NÃO TRABALHAR MAIS!) e a jogue num quartinho acolchoado (finalmente um lugar confortável para DORMIR, for lóve, e com design Campana Capitoné, um luxo) o corpo fala, o corpo diz: AFTA!

O popular 'sapinho' vem e se instala na mucosa bucal de Criatura numa fúria somente vista em surtos de herpes zoster, tornando o delicioso ato de alimentação uma tortura. A sorte (pouca) é que Criatura não tem o complemento nefasto do dito popular, então a coisa fica ali pela boca mesmo. Como o mal-estar nunca vem desacompanhado, e em se tratando de afta, menos ainda, há toda uma revoluteação gástrica acompanhando Criatura, como se todo o aparelho digestório tivesse resolvido virar um enorme caleidoscópio. De vísceras. Nem Clive Barker, amigo. Nem ele.

Haja bicarbonato de sódio, água gelada, malvona e malvatricin e a Santa Panacéia Estomacal, Coca-Cola.
Arre.

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No coletivo, o gurizinho mais lindo, de boné desbotado, chinelinhos de dedo, calção roto e sem camisa, com cílios longos e olhos oblíquos que lembravam um amor muito antigo e muito amado. Trazia o braço numa tala - e essa que vos escreve logo pensa em abuso domiciliar -, sentadinho no colo de uma mãe muito carinhosa. (Ou era acidente mesmo ou o preço do carinho anda cada vez mais estratosférico - e o próprio, de pior qualidade.) Ele sorria para mim e íamos tendo nossa conversa muda. Até que a mãe o chamou: "Eduarda!".
Às vezes, parece que caí numa mistura pouco homogênea de Dogville com In the mouth of madness.

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Se vai embora e não mais, não preciso viver todos esses os dias com a perda. Fica a lembrança estancada, com o curativo ali muito bem colocado por cirurgião preciso e eficiente, e se limpa e se cuida até que fique só a cicatriz. No reencontro, haverá tecido cicatricial róseo e uniforme que poderá ser cutucado apertado beliscado esbofeteado. Até acariciado! O que não posso é as nossas feridas abertas, o sangue escorrendo manso e se encontrando no chão e o conhecimento inevitável de que aquilo será o máximo de união que teremos de agora em diante.

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Hoje, a moça bonita da loja perguntou se eu era daqui. Vários pensam que sou do norte ou do centro-oeste. (Por que, hem?) Outros pensam que vim do interior do estado. Todos errados: sou de parte alguma. É que os liames machucavam demais minha cobertura muito fina de cambraia pele-de-ovo. Decidi cortar os fios que me ligavam ao titereiro. Agora, o alívio e a dor de não pertencer a nada. (o curioso é que não consigo me acostumar a eles.)

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Tenho cozinhado. Com manjericão fresco. Tomates frescos. Carne. Penne grano duro.
É o tipo de amor que conheço.

(Facilite um pouco as coisas para mim, bwana. Fale meu língua. De preferência, sem aftas.)

Tuesday, February 07, 2006

Sozinha no Mundo

Sozinha no mundo

Marcos Rey escreveu Sozinha no Mundo, a história da menina com a tigrinha.... aaaahhh...

Aqui, Marcos Rey diz quais são os vinte títulos essenciais de uma boa biblioteca.

Assim como acontece com ele, Lolita é um dos meus favoritos. Em Lolita, Nabokov faz o leitor testemunhar - e quiçá sentir ele mesmo - a angústia profunda de se viver algo muito equivocado, não errado, porque, ora, certo-e-errado, ha!, mas equivocado. Algo que não tem como dar um bom resultado, não importa de que jeito se faça.

E o nó na garganta, a dificuldade de respirar, de engolir e o desejo louco de que alguma coisa ali não desande e tudo desanda, TUDO, ao mesmo tempo e sem parar, e quanto mais se tenta consertar, pior fica, é como tentar muito se salvar enquanto se afunda esperneando em areia movediça. É a corrida desvairada louca ansiosa do desesperado rumo à catástrofe total que procurou evitar todo o tempo. É o elogio da negação absoluta e é lindo. Lindo.

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A solidão é algo que nos acompanha, um estilo de vida. É asséptico, chique, clean, cult e civilizado. Sem sujeira, sem retoques. Uma delícia sob medida para pessoas control-freak, que escolhem minuciosamente o que dividirão e o que não: ninguém sabe se você é bulímica, anoréxica ou gorda mesmo, se chora à noite pensando em mo chuisle, se acorda gritando de pesadelos horríveis pontualmente às 4h17min da manhã, se comeu metade do pote de sorvete de creme assistindo a três filmes no mesmo dia e depois ficou com dor de garganta, se gastou muito mais do que devia comprando o milionésimo centésimo sapatinho irresistível com fita azul em cima, se berrou como uma louca quando entrou a barata voadora em casa, espirrando meia lata de Rodox na incauta, desviando dela aos gritos enquanto tentava, simultaneamente, segurar a toalha de banho sobre o corpo e espancar a dita cuja com a vassoura cujas cerdas os gatos adoram chupar. Não, ninguém vê você pagar esses micos, ninguém vê, ninguém sabe quando a sua pele está radiosa e você sai perfumada e bela naqueles dias em que a roupa está perfeita, o batom (de dé reáu) está mais lindo em seus lábios do que um Lancôme porque lá dentro, com toda a mágoa com todas lágrimas triglicerídios coágulos dívidas imbecis estrias fracassos retumbantes um após outro após outro após outro e outro e expectativas todas frustradas, as suas, as deles, gemendo baixo e continuamente, com tudo isso e menos, ainda, você é. Perfeita.

Friday, February 03, 2006

Misereor

Você acorda depois de ter finalmente dormido (um pouco do que precisava) e toma banho no chuveiro pelando, numa temperatura de 39 graus Celsius porque, voilááá, a resistência do chuveiro arrebentou na parte do ‘verão’ e agora só banhos ‘inverno’. Porque banho frio é muito bom mas faz suar em triplo depois, e tudo o que não se precisa é do brilho de um suor eterno, quase um banho-sem-fim portátil que acompanha você aonde for.

Bota o vestidinho preto porque é soltinho, é preto, é aquela coisa enfia-pela-cabeça e sai quase-bem-vestida, calçando as birkens porque ontem o sapato fez bolhas tão pantagruélicas e estapafúrdias que aquele chinelão (mas classudo) é a única coisa que seu pé suporta. Como maquiagem nenhuma dura nessa umidade desse calor opacitante e impactante – e incapacitante – o truque é o batom bem seco, aquele, e os óculos, e venha o que vier.

Lá se vai você, naquele coletivo lotado, naquele calor saariano, e as alegrias do dia são três: 1) o gostoso ali do banco em frente mergulhando no seu decote; 2) é sexta-feira e você terá dois abençoados dias in-tei-ros sem ver as nefastas e rastejantes criaturas que peçonham naquele lugar esquecido por deus onde você ainda terá que dar as caras (e o sangue, e a alma) por pelo menos mais uns quarenta dias e 3) na sua bolsona leva-tudo tem uma surpreendentemente bela blusinha de malha com lantejoulas – porque brilho é *tuido*!! amigaa! – comprada por menos do que custa uma corrida de táxi, numa loja daquelas que bota absolutamente TUDO o que tem no estoque para decorar a vitrine.

É. Bom final de semana.
(Se alguém for no pagode, no baile funk ou no bailão, me chama. Táá?)

Wednesday, February 01, 2006

M:i - 3

* Circulando *porrrraí* com a jaca. Você pega o jeito. Bom não é, mas dá para ir levando. E, quando menos se espera, a jaca se desgastou toda e sobrou... o seu pé. É. Vão-se as jacas; ficam os pés. Meio melados, mas inteiros.

* Qual é a possibilidade de se confiar num livro que apregoa "não viaje na maionese"? (????) Só pode ser obra de algum contemporâneo. Co-contemporâneo.

* (Momentiño Aline Dorel): Um blog amigo aborda o assunto Oscar e fala, fala, fala. Outro blog amigo aborda o assunto Oscar e fala, fala, fala. Uôôôu, uôôôu, uôôôu, deixem-me ser BU-rrrrrrra! Cultura DÓI!

* (ou seja, você não lerá, não verá, não suspeitará, não tergiversará, não comentará, não pensará e sequer cheirará algo parecido com Oscar por essas bandas. revolta contra a Indústria? contracultura? rebeldia histérica aborrecente atrasada? NAH! IG-NO-RAN-TIA! - 'cause, you know, it's bliss!)

* ai, 'tá tão chaaaaaaaaaaaaaaaato aqui...

* Oi, meu nome é Belly e eu adoooooooro comprar coisas. Sou consumidora compulsiva. Eu compro, compro, saio comprando, compro mesmo, compro o que já tenho, compro o que não tenho, compro comida, remédio, bens duráveis. Eu compro. Compro TUDO. Para realizar minha compulsão consumística com menos culpa, arrumei o álibi perfeito: FILHO! Agora meus problemas de culpa judaico-cristã SIACABARAM! posso gastar HORRORES de dinheiro na mensalidade do colégio, no aparelho ortodôntico, no plano de saúde, no supermercado e nas nefastas idas aos shoppings centers ('mãe, *vamo* na megamídia, *vamo* na jambo, *vamo* na computech, *vamo*, *vamo*... hmmm, mãe, 'tô com fome, não dá pra fazer um lanchinho?') QUE ALEGRIA! E não é só! Todo fevereiro tem o super-mega-extra-ultra-plus BÔNUS POBRETÃO, a lista de material escolar! Pois onde mais você, Compulsivo Amigo, conseguiria enterrar ainda mais dinheiro do que na mensalidade absurda daquele colégio (bom e) carésimo? (dois salários mínimos, uma bobagem.) SORRIA!!! É uma felicidade, uma sorte mesmo, poder raspar todinho o dinheiro da conta E o negativo, comprando, comprando, comprando, livros didáticos às carradas e milhares de papeizinhos e colas coloridas e o escambau. I'm blessed! Viva o Estado Democrático de Direito e a Constituição Cidadã, que me obrigam a colocar a criatura a estudar em colégio particular, a ir em médico particular, a fazer TUDO particular para ter um mínimo de qualidade de vida, tudo isso em troca de uma carga tributária escorchante e praticamente confiscatória! Brazéo, meu Brazéo brazileiro...

* Agora, os nossos comerciais, por favor (porque o melhor do entretenimento gratuito é sempre o intervalo compercial): "o único alimento 100% pizza: PIZZA! (sobe jingle BG: piri pi pi piri pi pi - pizza! awww! tchururu) e agora também o novo PIZZA sabor Pizza! refeição estéreo. zero pontos."

Quando a alma não é pequena

"Eu caminhei nas pedras, eu ajudei carnear vaca, eu chorei baixinho, eu piquei cebolas, eu roubei frutas do vizinho, eu beijei mulheres, eu apanhei de fio de luz, eu fui no funeral de um amor, eu berrei alto no meio das lágrimas, eu reprovei na quinta série, eu me formei com nota dez, eu pedi dinheiro emprestado...."

Passado e

Amassado.

No Megeras.
Não perca.