Tuesday, May 31, 2005

Personal Jesus

Janice enlouquecia em lojas de lingerie. As mais finas, as mais caras, as La Perlas e Fruits de la Passion, nada disso lhe seduzia. Janice queria lingeries sórdidas, baixas, vulgares, com peninhas, pluminhas, oncinhas e fendas nada ortodoxas. Suspirava frente ao balaio de vime colocado debaixo do cartaz que apregoava "1 por R$ 5,99, 2 por R$ 8,99!" em tinta têmpera vermelha. Os olhos pretos brilhavam, ônix muito polido, diamantes negros. E todo o tempo em que manuseava as pecinhas ínfimas e delicadas de muito mau gosto, imaginava o corpo de Maicon como recheio.

Maicon era infinitamente doce de uma forma assustadoramente bruta. Aquele corpo muito firme, muito grande e muito rijo enchia Janice de simultâneos pânico e paixão quando se estirava sobre o dela. Imaginava que um dia poderia não sobreviver, sufocada, soterrada naquela abundância de músculos e testosterona, dilacerada por tudo o que lhe penetrava. E se deliciava com isso. E se jogava com mais e mais ardor naqueles braços mesopotâmicos, desafiando e desejando a morte.

Foi na viagem a Forquilhas, para comemorar as bodas de ouro dos pais de Maicon, que Janice surpreendeu-se a visualizar (ali! no ato!) o furor másculo dele contido somente por uma pecinha tigrada com pluminhas pink. Ali, despido como estava, parado bem no centro do seu quarto de garotinho. Nu, a não ser pela tanguinha de tecido brilhante barato que seus olhos projetavam na região mais proeminente do seu corpo. Sorriu largamente, os olhos faiscando. Não dormiram.

Apesar de todo o frisson que as fantasias de Janice lhe causavam, Maicon começou a ficar desconfortável. Tudo bem as coisas que ela falava, todas aquelas imoralidades de usar tanguinha com renda, tanguinha com peninha, tanguinha com lateral de silicone e pompom de coelho. Mas agora além de falar ela pedia que usasse, que dançasse sucessos disco com o corpo untado em óleos perfumados. A cada três ou quatro dias surgiam peças totalmente inusitadas de lingerie, que Maicon bem que gostaria de ver no corpo torneado de sua musa, mas que eram compradas para ele, só para ele. Ele pedia "usa, Janice. Bota para eu ver como fica, só uma vez" e ela respondia sorrindo "só depois que eu ver como fica em você..."

Maicon ia aos poucos definhando em sua capacidade garanhúnica. Janice, sempre insatisfeita, fazendo beicinho porque ele não usava a lingerie de oncinha, não colaborava para a retomada da sua performance arrasa-quarteirão. Ele andava cabisbaixo, entristecido, cogitando do porquê dela querê-lo afeminado, logo ele, seu monstro das neves, seu toureiro valente, criado abaixo de surra de cinta dia sim, dia não, ouvindo todo o tempo que homem não chora. "É que falta recheio nessa calcinha, Maicon", ela dizia.

Passeando cabisbaixo no centro da cidade, Maicon deparou-se com um sex shop totalmente despudorado, com vitrines e manequins exibindo as famigeradas lingeries que obcecavam Janice. Instintivamente, entrou.

Lá estava a salvação.

Naquela noite, ambos foram felizes como nunca. Maicon deleitou-se observando as lindas curvas de sua amada portando apenas uma lingerie de plumas brancas, devidamente rechada pelo strap-on dildo que trouxera do sex shop. Janice sorria, exultante, com o namorado feliz e a calcinha preenchida. E, sem jamais retirar a lingerie, abraçava seu amor pelas costas, cavalgando-o selvagemente, enquanto ele uivava para a lua que se tingia de sangue.

Pagodón

Se você põe aquele seu sorriso lindo e um outro alguém olha para você
Eu digo que já não gosto dele que você não vê que ele está ficando démodé

Mas é ciúme.

Friday, May 27, 2005

Camisetiñes!

Amelie

No site Alguns Tormentos você encontra diversas camisetiñes de babar. Comprei uma que não está lá nem para encomenda, contendo uma menina-mangá chorosa com os seguintes dizeres: "even your imaginary friends would not play with you" - very me, I say.

Stressée, moi?

O Alguns Tormentos está aceitando reservas para a nova fornada, prevista para julho.

Kill Bill

Enquanto isso, se a macacq gastadeira dentro de você não lhe permite aquietar-se, vá torrando seus cobres na Cuma?. Entre outras delícias, a Cuma? disponibiliza uma camisetiñe confessional, Mussum Forévis, e outra para hate days, com De Niro em Taxi Driver. Ambas já dão expediente no closet dessa que vos escreve.

Deeeee-lite yourself.

Wednesday, May 25, 2005

Super Styling Me



Diga no sistema de comentários (que estiver funcionando, helas):

que super-heroína é você, buñita?

Aquarius

Era uma vez um cara tão alto, mas tão alto, que não cabia na história. Tinha tanto azar, mas tanto azar, que nasceu sem os braços e no seu lugar havia somente as mãos. Suas mãos eram tão horríveis que não pareciam mãos.

Por ser tão alto, demorou muito mais tempo que os outros para nascer, e nasceu errado. Por não ter braços, nunca teve amigos ou abraçou alguém. Por ter as mãos tão horríveis e disformes, não conseguia pegar nada.

Um dia notou que estava ficando ainda mais alto. As pessoas que antes o desprezavam agora tinham medo. Suas mãos cresciam cada vez mais. Era um ser abominável, sem amigos, sem braços, com mãos enormes e disformes. Era um ser sem sorte.

Num ato de extremo desespero por ser tão alto, por ter tanto azar, por não ter amigos, por não ter braços, agitou tanto as mãos que acabou voando.

Então soube a razão de todas as coisas.

Ele era um anjo.
Um anjo sem braços.
Um anjo muito alto.
Um anjo garoto.

Era anjo porque era bom.
Era anjo porque era justo.
Era justo porque via as coisas de cima.
Via as coisas de cima porque era alto.

Era anjo porque não tinha amigos.
Não tinha amigos porque não tinha braços.
Amigos querem abraços.

Era amigo dos que não queriam ser seus amigos e os abraçava com o coração.

Era anjo porque não tinha sorte.
Não tinha sorte porque não esperava.
Não esperava porque lutava.

Era anjo porque tinha as mãos disformes.
Tinha as mãos disformes porque não eram mãos.
Não eram mãos porque eram asas.

Um dia, enquanto voava sentindo o vento no rosto, a alegria tomou conta do seu ser e ele gritou:
- SÓ OS ANJOS VOAM!!! SÓ OS ANJOS VOAM!!!

Escrita por Elidalberto Maciel Batista em 1996

Tuesday, May 24, 2005

One of these mornings

007

Monday, May 23, 2005

Nonsense et nonchalance

Tuesday, May 17, 2005

Lalalando

Green Velvet

ME LUUUUVS
FUNKY GREEN THINGS!!

Monday, May 16, 2005

Mulholland, here

Diane Selwyn and herself at the cash dispenser:
- Silencio.
- Silencio.
- No hay saldo.
- Silencio.

(Rebekkah Del Río comes slowly from background:)
- Llorando, llorando, lloraaaaaaaaaaaa-aaaando...

Wednesday, May 11, 2005

O pior cego

E cada vez mais enxerga-se menos e cada vez menos se quer enxergar. O uso dos óculos é porque doem os olhos terrivelmente com todos os seus graus de miopia e astigmatismo cumulados e exponencializados, capazes de levar à loucura ou à enxaqueca - a que chegar primeiro.

Até são bem bonitinhos os óculos num look 40's, armação bem marcada, retangular, escura. Ele protege dos olhares de terceiros, que jamais saberão como é o rosto sem óculos. Como é a verdadeira face. Aquela que é doce encostada no peito do parceiro, aquela que é cheia de amor acordando a criança pela manhã. Só está disponível a face fria e dura da mulher-de-óculos, que analisa o mundo atrás de um anteparo, a sua lente e também o seu escudo.

A visão segue imperfeita, mesmo com os óculos. Porque as moléstias avançam, mas o anteparo segue o mesmo. Vendo o mundo difuso, acreditam-se difusos para ele também e recolhem-se seguros no ninho da indeterminação dessa imagem suavizada. Onde os defeitos quase não aparecem. Onde as arestas não se acusam.

Monday, May 09, 2005

Mutatis mutandis, rebus sic stantibus

(as coisas como são, porque nunca mudarão)*

Certa feita, Otto von Bismarck proferiu que "leis são como salsichas; melhor não ver como são feitas".
Discordei antes e discordo agora. Mas isso é outra história.

O que faria Bismarck revirar no túmulo, porém, é saber que as salsichas ultimamente não têm sequer sua aparência preservada. Projetos de lei para identificação ostensiva de travestis, instituição do Dia do Sono como feriado nacional e transferência da Capital Nacional, de Brasília para o Amazonas, por dez dias.

De brinde, Leitor Amigo, juíza examina imputação referente à rinha de cães e dedica a sentença à cadelinha Preta.

Muito francos, eu digo. Quem disse que direito é aquela coisa mofada, cheia de palavras ininteligíveis. Ha. Law is fun. (and Jude Law - for some boys and girls - is much more fun)

* nome da chapa que concorreu ao Centro Acadêmico em 1996/1997 e respectivo bordão.

Tuesday, May 03, 2005

A Salvação das Senhoras

Yakult

Comprovado.

(secrets de famille)

Calada Noite Preta

Sexta-feira que vem é 13.

Agendem seus sabás. O Mishappenings não vai deixar passar fácil não.

Estamos passados aqui na redação

Monday, May 02, 2005

Movie Releasing

O final de semana rendeu dois bons filmes. Bom filme, para mim, é aquele que vale o deslocamento até o cinema e o preço exorbitante do ingresso. (fazendo a pobre)

Kinsey

Kinsey é mesmo muito bom. Porque apesar de termos feito tudo tudo tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais. Aproveite essa oportunidade de repensar as suas atitudes, as suas escolhas e, principalmente, o nonsense total das cobranças que nos são socialmente impostas. Eu tenho medo de participar da sociedade humana, e você?

Hostage

Um bom hollywoodizão em sua melhor Die Hard fórmula, Hostage, traduzido como *Refém* (num acesso de racionalidade das distribuidoras brasileiras) é tenso. Especialmente no início. O início é um tapa na sua orelha, uma pinça de molibdênio nos seus delicados trapézios. É um filme que acarreta intenso gasto calórico pelas emoções que proporciona. Fui jantar depois de assisti-lo, tamanha a gastura. Mas é como montanha-russa: você vai, curte muito, berra adoidado e esquece em seguida. E não leve a sério a intimidação do cartaz, *would you sacrifice your family, blablabla*.

Sei que é recém segunda, mas sinceramente: vocês não tem *pânica* dessa sociedade e das ridículas regrinhas proper/not proper que nos são enfiadas *goelabaixo*? Faça como Kinsey, não mande ninguém para lugar nenhum, nem berre palavras de ordem: simplesmente concentre-se em proporcionar prazer à pessoa que mais lhe importa na vida: você mesmo.

And Enjoy It.