Personal Jesus
Maicon era infinitamente doce de uma forma assustadoramente bruta. Aquele corpo muito firme, muito grande e muito rijo enchia Janice de simultâneos pânico e paixão quando se estirava sobre o dela. Imaginava que um dia poderia não sobreviver, sufocada, soterrada naquela abundância de músculos e testosterona, dilacerada por tudo o que lhe penetrava. E se deliciava com isso. E se jogava com mais e mais ardor naqueles braços mesopotâmicos, desafiando e desejando a morte.
Foi na viagem a Forquilhas, para comemorar as bodas de ouro dos pais de Maicon, que Janice surpreendeu-se a visualizar (ali! no ato!) o furor másculo dele contido somente por uma pecinha tigrada com pluminhas pink. Ali, despido como estava, parado bem no centro do seu quarto de garotinho. Nu, a não ser pela tanguinha de tecido brilhante barato que seus olhos projetavam na região mais proeminente do seu corpo. Sorriu largamente, os olhos faiscando. Não dormiram.
Apesar de todo o frisson que as fantasias de Janice lhe causavam, Maicon começou a ficar desconfortável. Tudo bem as coisas que ela falava, todas aquelas imoralidades de usar tanguinha com renda, tanguinha com peninha, tanguinha com lateral de silicone e pompom de coelho. Mas agora além de falar ela pedia que usasse, que dançasse sucessos disco com o corpo untado em óleos perfumados. A cada três ou quatro dias surgiam peças totalmente inusitadas de lingerie, que Maicon bem que gostaria de ver no corpo torneado de sua musa, mas que eram compradas para ele, só para ele. Ele pedia "usa, Janice. Bota para eu ver como fica, só uma vez" e ela respondia sorrindo "só depois que eu ver como fica em você..."
Maicon ia aos poucos definhando em sua capacidade garanhúnica. Janice, sempre insatisfeita, fazendo beicinho porque ele não usava a lingerie de oncinha, não colaborava para a retomada da sua performance arrasa-quarteirão. Ele andava cabisbaixo, entristecido, cogitando do porquê dela querê-lo afeminado, logo ele, seu monstro das neves, seu toureiro valente, criado abaixo de surra de cinta dia sim, dia não, ouvindo todo o tempo que homem não chora. "É que falta recheio nessa calcinha, Maicon", ela dizia.
Passeando cabisbaixo no centro da cidade, Maicon deparou-se com um sex shop totalmente despudorado, com vitrines e manequins exibindo as famigeradas lingeries que obcecavam Janice. Instintivamente, entrou.
Lá estava a salvação.
Naquela noite, ambos foram felizes como nunca. Maicon deleitou-se observando as lindas curvas de sua amada portando apenas uma lingerie de plumas brancas, devidamente rechada pelo strap-on dildo que trouxera do sex shop. Janice sorria, exultante, com o namorado feliz e a calcinha preenchida. E, sem jamais retirar a lingerie, abraçava seu amor pelas costas, cavalgando-o selvagemente, enquanto ele uivava para a lua que se tingia de sangue.